A história não pode ser mais aquela coisa estática e impraticável
apresentada pelos teóricos, sem que uma ponta de crítica e opinião, dela possa
emergir. Uma história linear seria tão sem vida quanto a ausência de vida em
si. Portanto, os críticos do passado e do presente não deveriam se imiscuir nas
questões de opinião histórica, permitindo e dando a conhecer o triunfo de uma
história sem calor, sem fontes e sem o desejo explicativo das elucidações.
Bem verdade deve ser evitada a interpretação que não possa ser provada
ou comprometida com o fato. Não será possível que surja uma história
distanciada dos opinativos e das explicações do que a escreve, quando lhe
retiramos a faculdade dever de interpretar e explicar. Foram muitos os
historiadores que deram suas interpretações e até mesmo opinaram independente
de ser a vontade do interlocutor. A equidistância da historia deve desaparecer,
cedendo, por seu turno, lugar para que se desenvolva criticamente, em vez de
ficar presa numa linearidade daquilo que outros já o disseram. História não se
reinventa, mas se reinterpreta consoante a descoberta de fatos, de novas visões,
de novas interpretações que surgem de acordo com os fenômenos que cercam o
evento ou o fato histórico.
Não será possível, de modo algum, a
interpretação da história se automatizar os historiadores e os colocarmos em
camisas de força, obrigando-o a escrever e a registrar o que a sociedade e os
interesses subterrâneos indicam. Lembro-me de alguns dos historiadores da minha
infância que davam uma interpretação para a história segundo a cor da sua
religião. Entre os tais, permito-me citar os senhores Borges Hermida, e Pandiá
Calógeras e tantos outros, por exemplo, que emprestaram as cores do seu fanatismo
religioso, para encobrir os “pecados do
catolicismo” apresentando-o puro e imaculado, incapaz de retoques. Só muito
mais tarde, na medida em que outras vertentes religiosas avançam e o
catolicismo vai se perdendo pelos caminhos da sucumbência, é que surgiriam
muitos autores com suas interpretações mais realísticas, uma vez que a história
não pode ser inventada nem escondida por muito tempo.
Essa leva nova de novos escritores de
história passou a interpretar a história não como algo linear, mas capaz de
sofrer o crivo da historiografia, desvendando e explicando as várias nuances,
realizando críticas postas a serviço da interpretação do estudioso. Um
historiador não precisa ter carteirinha, como não é privilégio de ninguém
escrever história. Basta ter conhecimento do fato, tangenciá-lo ou até mesmo ter
vivido dentro do tempo da sua ocorrência. Ficar a repetir conceitos velhos e
carcomidos pela poeira do tempo inescusável, e inexoravelmente, seria decretar
a morte da história que não se reinventa, que não se reveste de nova roupagem,
que não opina não se aquenta, nem se distancia da simples mentira, pelo que se
escarmenta com o puro manto da hipocrisia e do distanciamento. Se for verdade
que o historiador é testemunha do seu tempo, há esse historiador de abrir
comentários capazes de esclarecer e ensinar, doar e permitir opiniões que se
completam com a historicidade do fato. Com medo de ferir velhas e frustradas
expectativas para não dizer omissivas, não pode o historiador deixar de
perpassar seu olhar crítico que se sustenta na afirmação da sua personalidade
diante do evento.
Quando nos debruçamos para explicar um
pouco da história do papa e da sua igreja, deixar de adjetivá-la é
tarefa que só os puristas e os desglamorisados da vida podem se permitir. È
hora de explicar sim, de apresentar a crueza dos fatos sem que possamos nos
importar em fazer afirmações, contanto que não sirvam como num convescote,
senão para acalmar velhos e desiludidos corações. Não é o historiador um
autoajudador da sociologia, muito menos um psiquiatra ou psicólogo de gabinete
na conveniência das palavras que possam satisfazer o paciente, e aplacar os
seus parentes aflitos. A história é marrenta e dura. Cada macaco no seu galho.
E o resto é só chou chuá...
Max Brandão Cirne
WWW.ursosollitario.blogspot.com.br
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