A idade nos leva a fazer reflexões.
Lembro-me sempre da minha infância na querida Itiúba, lugar do meu nascimento.
Hoje já velhão, emociono-me com tantas boas recordações. Ma delas é a que diz
respeito aos mês “tios” e “tias”.
Não: não se tratava de
consanguinidade. Eram meus vizinhos que nós chamávamos de “tios”.
“Tia Maricota” era aquela que mascava
fumo de corda. Todo o dia após o almoço íamos
para sua casa. Era casada com “Tio Tonho” velho estafeta dos correios.
Não tinha nada que não dividissem conosco. Pobrezinhos, eles não negavam o
pouco que tinham. Quem não soubesse podia até pensar que éramos parentes. Não
éramos.
Tinha a “tia Cacá”, essa então, era
louca pelo Max. Lavorando na roça, ao final do dia trazia-me licurís maduros
que os cozinhava e me dava com muito amor. Seu nome de batismo era Josefa. Eu a
apelidei, ainda muito criança de “Cacá” exclusividade minha. Seu marido era
caçador de pequenos animais como jaguatiricas, coelhos e outros, além de
plantar pequenas roças de subsistência.
Sua irmã, “tia Tida”, moça solteira
continuou até entregar sua alma ao Criador. Dizia-se que levaria a virgindade
para um tal de “São Libório”. Levou-a ao que sabemos. Morreu caducando.
À noite íamos todos nos aboletar na
casa onde viviam, a casa do “seo Marinho” e ouvíamos literatura de cordel que
era lida por alguém, relatando duelos de príncipes, reinos e princesas,
charadas e histórias fabulosas.
Não éramos parentes. Ainda havia o
velho “tio Otaviano” ranzinza que só ele mesmo, cabecinha branca que pedia
esmolas e ficava danado da vida quando nós moleques, entre eles eu mesmo,
cantávamos: “Tio Taviano me dê dez tostões pra comprar de pão”.
O que diferia meus “tios” de ontem dos
“tios” de hoje era o profundo respeito que nutriam por nós e nós por eles. Não
os chamávamos de tios por deboche ou desrespeito como hoje se faz. Era parte de
uma convivência saudável e de uma aceitação responsável e respeitável.
Nossos “tios” cuidavam da gente e nos
abençoavam nos tocavam nos cuidavam e éramos amados. Quanta diferença!
Não dávamos “bom dia” aos mais velhos.
Se eram pessoas conhecidas, pedíamos “a bênção”; se não, apenas ficávamos calados.
Bom dia só se dava aos de igual para igual. Era assim, sim.
É como ainda é bom saber que tive
tantos “tios” e “tias” que, portanto marcaram o menino de ontem e ainda
emociona velhão de hoje com a mais pura
e sagrada recordação.
Obrigado “meus tios” amados! Quanto
respeito vocês nos transmitiram e ensinaram para o viver existencial de todos.
Obrigado é pouco. Continuam vivos. Vocês se eternizaram.
Santo Antonio 27 de agosto de 2012.
Max Brandão Cirne
P. S. Se você deseja ler esta crônica
no blog, vá ao Google e escreva: Max, o historiador. É o bastante.