Coincidentemente fui atacado por terrível “virose” na mesma época em que
o cantor Pedro sofreu lamentável acidente. Ele foi internado em dois hospitais
de linha e eu fiquei em casa, como ainda permaneço grudado dia e noite ao
televisor.
Orei pelo Pedro, pedi a Deus pelos seus familiares e por sua vida. Mais
de um mês após alegro-me por ver o meninão Pedro saindo do terrível sufoco. O
moço não merece como ninguém, tamanha dor nem sofrimento. Sofri com ele e por
ele. Como a televisão nada tem e meu corpo ficou rebelde e preguiçoso, quase
não sai, salvo para consultas médicas, retornando imediatamente.
Assisti a todos os esforços para salvar o Pedro. O que me deixa mais
espantando é o noticiário televisivo dia e noite massacrantemente a falar do
Pedro, gente chorando, jornalistas dando plantões em busca de notícias, fãs em
chilique, desmaios verdadeira saturação com
sofrimento do Pedro.
Não tenho nada contra o Pedro. Só que já não suporto mais ver aquelas
expressões de pessoas que forçam a barra, procuram exprimir o que não sentem e
eu fico a pensar: será que é por ser Pedro famoso e rico? É óbvio.
Como fico o dia todo sem ter o que fazer, salvo tomar remédios
intermináveis e inúteis fico a mudar de canal.
Quanta gente morrendo nas filas,
quantos hospitais sem condições mínimas, quanta verba garfada, quantas pessoas
nesses trinta dias morrendo sem a mínima assistência, enquanto a imprensa não
dá plantão vinte e quatro horas nem as pessoas fazem longos programas para
falar que o Pedro soltou um “pum” ou que deu um sorriso.
Quero que o Pedro viva e saia dessas.
Mas gostaria de ver menos bajulação, menos hipocrisia e que os jornalistas
dividissem e anunciassem quantas centenas de pessoas morreram sem a mínima
assistência nos hospitais, fãs clubes e
sem empresários plantados vinte e quatro horas no Sírio-Libanês, sem quem lhes
chore, sem quem lhes conforte as almas feridas e com aquela infeliz certeza de
impotência material e financeira, o sabor amargo de saberem que seus parentes
morreram por não terem dinheiro para custear as despesas. Morreram à míngua.
Por não poderem pagar essa medicina que atende e bajula os ricos e afortunados
e abandona à sina os pobres e desvalidos dessa republiqueta omissa.
Sou um homem que experimentou, faz
pouco tempo, um filho em estado de coma por sete dias. Nos valemos do plano de
saúde. Graças a Deus está ele bem. Agora mesmo em rápido noticiário, uma
senhora lamenta que na porta do hospital de São Paulo (público) seu parente
morreu porque negaram um leito. Quem foi responder ao inquérito fajuto e de
mentirinha? Claro, os seguranças.
Não seja apressado em julga-me como um
insensível. Não: desde o início faço o que sempre achei certo. Orei por Pedro e
seus familiares. Só não aceito é essa comoção desrespeitosa, esse acinte diante
de um mundo abandonado em que, a imprensa, sem exceção, em verdadeira catarse
deixa de anunciar os desvalidos para anunciar com estardalhaço uma pessoa em
perigo.
Por que será?
Lembre-se; NÃO vote. ANULE o voto.