Lembro-me com redobrado saudosismo dos
tempos de faculdade, em que, vestindo a pretexta, a Escola de Direito da
Universidade Federal da Bahia dava-me uma oportunidade para alcançar o
bacharelato. Cheio de sonhos e expectativas pensava, nos meus devaneios,
pertencer a um mundo capaz de ser consertado e alcançar respeito através das
ações dos homens públicos. Socialista convicto ou esforçado para ser, pensava
que os homens que conseguiam um anel de colação de algum grau, pudessem fazer a
diferença para melhor numa espécie de super- homens a serviço sempre do bem.
Lembro-me daquele velho professor
Modesto, nas aulas de direito constitucional a explicar a composição do Supremo
Tribunal e das demais casas de justiça do Brasil, com a sua voz clara a fazer
com que estendêssemos significados que ele explicava como “saber profundo” “viver escorreito”,
“ilibada reputação moral” e outras coisas que estão escritas até hoje no
papel, mas, que não servem para o Brasil.
Então sabemos hoje que para ser
ministro ou desembargador de qualquer tribunal deste país não necessita ter
saberes nem conhecimento, mas, a solerte arte de rebaixar e se se transformar
em capachos pedintes infames a perder independência e moralidade para que sejam
os escolhidos. Nada de saber profundo ou de ilibada reputação moral. Esqueçamos
essas tolices.
De repente vejo ministros ávidos e receosos,
pedindo e se humilhando para que seus nomes sejam indicados para as composições
dessas casas, e, até vejo um outro, do supremo, pedindo e implorando para que
sua filha de trinta e três anos ocupe uma das vagas de desembargadora num dos
tribunais d Brasil.
Vejo ministros sendo apontados por
revistas de circulação nacional se humilhando e se rebaixando a implorar, a
pedir e a suplicar favores para que seus nomes sejam indicados para ocupar as
Cortes do País num toma lá, dá cá sem precedentes, quebrando a independência e
a moralidade fiando a dever favores e se abaixando em troca de favores futuros
dos seus indicadores.
EW eu que me bati a vida toda por
concursos limpos numa tolice sem precedentes, me vejo com cara de tacho com
doce azedo a agarrar no fundo, eu que nunca aceitei uma indicação nem fui
indicado a nada, vejo meu saber profundo e minha escorreita e ilibada vida
pública ser lançado à humilhação e ser vilipendiada ao constatar que no Brasil
para se vencer é preciso apenas e tão somente saber a arte da bajulação, do
puxa-saquismo e do pedido, de nada importando o saber profundo ou a vida
inatacável. Os espertos se dão bem melhor na pátria da corrupção desenfreada,
dos homens sem caráter e dos homens submissos aos poderosos transformando-se em
suas mãos em meros capachos.
E quem vê as nossas casas chamadas
tribunais e assiste a bandarilha e a sem-vergonhice não tem mais dúvidas de que
o país soçobrou e afundou no mar de imoralidades e dos homens sem vergonha que
estamos assistindo impassíveis enquanto vão tomando desavergonhadamente conta
de tudo e modificando e ajustando conforme seu figurino de ausência total de
vergonha.