Acabo de
estacionar na gare chamada “69”.
Tem sido uma
longa e estafante viagem até alcançar essa gare, onde desembarco de mala e
cuia, alforje e samburá para curtir esperados 365 dias a ver se alcanço outra
estação, a “70”.
No meu trem,
muitos apressados desembarcaram, outros se acidentaram pela viagem cansativa,
outros tantos desistiram de viajar na hora h sendo a motivação variada e
inexplicável, pertencendo aos desígnios do Criador.
Não sei o porquê,
e, como permanecerei aqui na estação “69”, mas desconheço e, até sou
indiferente, se completarei o tempo de espera dos exatos 365 dias para
desembarcar em outra estação. Sei que no meu trem repleto de passageiros,
ocorrem desembarques a toda hora e em cada estação, sendo que o trem carrega
outros tantos que embarcam e iniciam sua viagem. Muitos esquecem que são meros
turistas a observar e fotografar imagens e paisagens, outros nem alvitram de
que jamais retornarão ao ponto de origem, outros não desconfiam de que as
estações podem abruptamente se distanciar e jamais alcançam determinados
pontos.
O número “69” possui alguns significados
engraçados, especialmente um de conotação sexual que santos e pecadores
cometeram um dia, vão cometer ou sonham em cometer. O número aqui referido é o
de tempos inexoráveis, anos vividos por este miserável pecador e agradecido a
Deus por tê-los alcançado. Jamais comemorei uma data chamada “natalícia”, ou
ainda aniversario, pois nunca aceitei comemorar a chegada de velhice, cãs e
cabelos esbranquiçados como neve sobre o teto humano, assim como a quebra de
nervos e músculos decaídos pela voragem e perspicácia do tempo.
Também nunca
pintei os cabelos, nunca neguei ou escondi os anos, mesmo porque as pelancas na
cara e adjacências, certamente me denunciariam inexoravelmente, nem economizei
vida como se fosse uma caderneta de poupança, não poupei caminhadas nem
andanças, nem preservei sequer um tostão de vida em economia impossível de
tempo e vida.
Mantive
valores como os familiares, fui bom filho e me tornei um excelente pai e avô,
fiz pouquíssimos amigos que se contam nos dedos da mão esquerda, mantive a
integridade da vida e da existência, não defraudei a ninguém, jamais roubei ou
furtei um tostão e, sobretudo alcancei, porque fui escolhido e salvo pela
misericórdia do meu Senhor diante de quem comparecerei um dia, Justo Juiz da eternidade a
contar os meus dias quando a trombeta ecoar, no seu estrondear pelas montanhas
da existência, não devendo nada aos meus contemporâneos.
Assim, devo
declarar que mantive e estarei atento para manter mãos limpas nos meus 365 dias
nesta estação “69” - na indiferença se alcançarei a estação “70”.
Quanto mais,
aquele abraço.