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Este blog tem como objetivo discutir História, postar artigos, discutir assuntos da atualidade, falar do que ninguém quer ouvir. Então sintam-se a vontade para perguntar, comentar, questionar alguma informação. Este é um espaço livre para quem gosta de fazer História.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

SOBRE GENGIBIRRA E REFRESCO DE MORANGO

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         Minha infância foi assim mesmo. Nada de refrigerante, salvo um único, aos domingos, quando saia a passeio com meu pai. Nos sertões de Itiúba, interiorzão da Bahia dos meus idos tempos, quando ainda não existia essa coisa modernosa de “fast food”, “praças de alimentação”, “shoppings centers” o escambau.
       Deixou-me a marca indelével que permanece soberana. Detesto morangos. Não combino com o sabor, poucas vezes compro-os, salvo para agradar à minha esposa. Detesto morangos e, a razão, é simples: no Bar do Zé Dantas bebíamos a doer às têmporas, de tão gelado, em preços que podíamos pagar copos e mais copos daquela beberagem de cor vermelho vivo, incorpado e incorporado aos sabores da minha geração.
          A sisudez do Zé Dantas, charutão na boca e não tão bem humorado, “menino só entrava para comprar, pagar e sair”, entre resmungos, que o homem não era lá de muita conversa, em especial com garotos.
         Já procurei por esse mundão a tal da “essência” com a qual o Zé Dantas preparava aquele “manjar”, e jamais consegui descobrir ou encontrá-la. Eis a razão pela qual meu paladar ficou viciado com aquele sabor maravilhoso a ponto de não conseguir digerir a fruta morango nem jamais consegui fazer, sequer, um licor com aquele sabor.
         Outra iguaria tratava-se da tal da gengibirra, uma beberagem vendida ao natural, em copos “faz- de- contas- que- lavados”, acomodado num barril de madeira que era trazido pelo seu proprietário e vendedor, lá dos lados da Rua da Estação, tendo armado, sobre o tonel, um guarda chuva preto e sebento de tanto uso, sendo estacionário entre a Loja do senhor Augusto Moura e a farmácia do senhor Soares, ambos já despedidos deste mundo.

          O tempo se encarregou de apagar, tanto os vendedores, quanto os consumidores. Coisas simples “que desaparecem e ninguém mais se recorda, salvo os” meninos-velhos” ou “velhos-meninos” perdidos no tempo e no espaço a remoer tempos idos que jamais voltarão.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

CATEDRAIS


O mundo todo sabe o significado de “catedrais”. Em especial na Idade Média quando os chamados próceres do catolicismo na sua megalomania, construíram, ainda que quebrando nações sob seu infame domínio, quando não, países inteiros.
Obrigavam vassalos a ficarem despossuídos dos seus patrimônios com promessas mirabolantes de encontrarem um pedaço no céu, ao seu dispor, depois, e, quando partissem dessa para o além. Foram construídas catedrais imensas e portentosas, algumas, sobreviveram às destiorações e às intempéries, desafiando o espaço e a calamidade que se abate, pela natureza zangada, ou, pela simples passagem inexorável do tempo.
Mas não são aqueles ricos e faustosos monumentos que nos referimos. Refiro-me mesmo às catedrais construídas por nós, para nosso deleite, e, ao mesmo tempo desconforto de terceiros, daquelas que o tempo se encarrega de apagar todos os vestígios e de fazer esquecidos construtores, arquitetos tolos.
Construímos para nossa vã filosofia catedrais enormes, nos perdemos em emaranhados tapumes, desvendamos quartos e dependências recônditas e nos escondemos na célula mais ínfima como se escudados na incerteza das nossas próprias construções, e nos perdemos e descemos até o mais escuro e desconhecido labirinto, a ponto de precisarmos de meadas para dali nos safarmos.
Por momentos embasbacados nos aprumamos nas nossas vãs existências, corriqueiras, rápidas e silenciosas, no descampado da realidade da passagem rápida e porque não dizer, até brusca, tal ou qual a chama de uma vela batida pelo vento, ou o distanciar de um navio do seu porto de partida desaparecendo na curvatura dos oceanos.
Em tudo nos perdemos nesse lamentoso e choroso momento em que teremos de deixar incólume, e, em abandono as catedrais construídas , a perenidade daquele que há por vir. O sagrado escritor já dizia: “Lembra-te homem que és pó, e em pó te hás de transformar”. Não obstante continuamos lavorando nas nossas construções, nos cercando de muros e minaretes, nos distanciando da existência e da abertura das almas e nos aprofundamos nas nossas incoerências, esvaindo-nos em esforços vãos que não nos levam a caminho algum, quando muito, encurta os passos para a morada dos mortais.
Deixamos para trás simples e pobres intrincados de construções ricas e mirabolantes, portentosas e suntuosas no desvario das nossas
concepções e das nossas fatuidades existencialistas, em nome e em benefício das nossas pobres, tristes e vaidades passageiras.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

UM CRENTE CHAMADO LINO

                                       
         Conheci o meu dileto e desaparecido amigo e Irmão Lino, em dois momentos distintos. O primeiro, quando eu era criança nas aulas de catecismo na paróquia Local, quando nas tardes de domingo o velho pároco ladino e espiritualmente equivocado nos ensinavam a nutrir ódio pelos “protestantes”, “pelos bodes”, “pelos capas-pretas”, “pelos inimigos da virgem Maria” com as recomendações para que nós disséssemos ao padre, no domingo seguinte, “se papai e mamãe tinham recebido em  algum protestante capa preta”.
          Passei a conhecer Irmão Lino e evitava aproximar-me do seu filho de nome João e, outros que a mente já não se recorda, como sendo “filhos do homem inimigo da igreja católica”.
        No segundo momento, conheci-o no ano de 1968 e 1969 quando cheguei a Itiúba transformado e lavado pelo Sangue de Jesus Cristo e me dispus a fazer e a realizar a obra da pregação e da salvação dos perdidos e desesperançados, para desespero dos meus pais que viam com imensa tristeza seu filho “protestante”.
          Jamais em toda a minha existência conheci um homem de profundo amor e desprendimento pelos perdidos. Viajávamos para lugarejos os mais distantes, em longas e cansativas caminhadas, cuja finalidade era a de levar o Evangelho aos perdidos. Ganhamos desse modo, muitas almas para Cristo. Humilde e conhecedor das escrituras, Irmão Lino criou por mim uma amizade profunda e eterna dessas que nem a morte consegue apagar nem fazer desaparecer pela ausencia.
          Ele possuía oitenta anos. No ano de 1968 salvo engano, o homem conseguiu ganhar uma jovem tornando-a sua esposa, acho que pela quarta vez casado daí nascendo uma garota hoje, já uma mulher madura, e que, faz parte da nossa Igreja Batista.
          Eu tinha em 1969 a idade entre 22 ou 23 anos, portanto no melhor do meu rompante juvenil. As dificuldades em acompanhar as longas passadas daquele gigante Lino pelas estradas poeirentas eram imensas. Muitas vezes tive de trotar para poder acompanhá-lo, o que disfarçava para não dar o braço a torcer. Coisas da vida.
         Não nos despedidos. Em 1969 fui para o Rio de Janeiro completar meus estudos no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e, nunca mais nos vimos. Arrebatado deste plano, não pudemos nos despedir nem eu fazer aquela prédica que sei, ele gostaria.
          Essa minha homenagem ao Irmão Lino é eterna. Tenho dito aos meus amigos mais chegados que, quando no Céu chegar, entre todos seremos os primeiros a nos abraçar. Irmão Lino foi um gigante na fé que na sua humildade e paixão pelas almas perdidas não se poupou de levar a mensagem nos lugares mais difíceis.