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Minha infância foi assim mesmo. Nada
de refrigerante, salvo um único, aos domingos, quando saia a passeio com meu
pai. Nos sertões de Itiúba, interiorzão da Bahia dos meus idos tempos, quando
ainda não existia essa coisa modernosa de “fast food”, “praças de alimentação”,
“shoppings centers” o escambau.
Deixou-me a marca indelével que
permanece soberana. Detesto morangos. Não combino com o sabor, poucas vezes
compro-os, salvo para agradar à minha esposa. Detesto morangos e, a razão, é
simples: no Bar do Zé Dantas bebíamos a doer às têmporas, de tão gelado, em
preços que podíamos pagar copos e mais copos daquela beberagem de cor vermelho
vivo, incorpado e incorporado aos sabores da minha geração.
A sisudez do Zé Dantas, charutão na
boca e não tão bem humorado, “menino só
entrava para comprar, pagar e sair”,
entre resmungos, que o homem não era lá de muita conversa, em especial com
garotos.
Já procurei por esse mundão a tal da “essência” com a qual o Zé Dantas
preparava aquele “manjar”, e jamais consegui descobrir ou encontrá-la. Eis a
razão pela qual meu paladar ficou viciado com aquele sabor maravilhoso a ponto
de não conseguir digerir a fruta morango nem jamais consegui fazer, sequer, um
licor com aquele sabor.
Outra iguaria tratava-se da tal da gengibirra, uma beberagem vendida ao
natural, em copos “faz- de- contas- que-
lavados”, acomodado num barril de madeira que era trazido pelo seu
proprietário e vendedor, lá dos lados da Rua da Estação, tendo armado, sobre o
tonel, um guarda chuva preto e sebento
de tanto uso, sendo estacionário entre a Loja do senhor Augusto Moura e a
farmácia do senhor Soares, ambos já despedidos deste mundo.
O tempo se encarregou de apagar,
tanto os vendedores, quanto os consumidores. Coisas simples “que desaparecem e
ninguém mais se recorda, salvo os” meninos-velhos” ou “velhos-meninos” perdidos
no tempo e no espaço a remoer tempos idos que jamais voltarão.