Normalmente saímos de casa, da proteção
dos pais, geralmente perto dos 18 anos. Nessa idade, quase nada temos, senão
uma mala e muitos sonhos e devaneios. A idade se inicia com despedidas,
refiro-me à idade de sair de casa.
Mais o que desejo mesmo é fazer
referencia aquelas mudanças que somos obrigados a fazer, seja de uma cidade
para outra, de país para outro, ou mesmo dentro da mesma cidade, importando em
mudança de endereço. Mudanças são inapelavelmente traumáticas.
Normalmente já contamos com muitas
tralhas as quais dedicamos algumas considerações, nos apegamos e passamos a
gostar delas. São livros, móveis, uma enxurrada de coisas que nossa avidez por
acumular, vai guardando, muitas sem nenhuma servia ou quase nenhuma. Parece não
termos explicações para essa coisa do homem acumular coisas e se agarrar a
elas, capaz até mesmo de causar desconforto com a sua perda.
Durante minha já longa vida acumulei
coisas, muitas absolutamente desnecessárias e inúteis, mas que vamos guardando
pelos cantos e prateleiras, agarrados a elas, migalhas de insignificância. Até
chegamos, muitas das vezes, a lamentar para que, afinal de contas, tantas
coisas inservíveis. Foi assim que fiz muitas mudanças e, cada mudança feita, lá
vem a trabalheira de encaixotar, enrolar, acondicionar, guardar e marcar.
Quando me estabelecia em outro domicilio prometia a mim mesmo jamais fazer
outra mudança.
São coisas que se partem, outras se perdem
outras desaparecem inexplicavelmente, e, outras, são encontradas depois de
muitos anos quando nem mais nos lembrávamos delas. Livros que desaparecem e nos
deixam sofridos. Trabalheira e preocupação. Escritos que amávamos e nos dedicamos
utensílios maravilhosos, enfim, perdas que depois não nos damos mais conta do
quanto eram desnecessárias!
A minha última mudança que pensei e
reafirmei jamais faria outra, miraculosamente só tive a perda de um espelho.
Sim, o espelho se partiu levando seu último reflexo nos cacos que tive de
recolhê-los diante do dono do caminhão de mudança absolutamente lamentoso pela
“perda”. Tentei confortá-lo dizendo que jamais uma mudança foi tão
significativa e rica em poucas perdas. Rimos, e, ele se foi.
Nunca fui de pagar caminhões de
mudanças, essas empresas que se encarregam de embalar e transportar sem que o
dono necessite gastar suores. Mas, sempre achei que elas além de caras, são
absolutamente impessoais. Nas mudanças há um toque de masoquismo e despedida,
no cuidado em arrumar cada tralha, em guardar na memória o lugar exato em que a
coisa foi embalada ou se encontra. Depois de feita a mudança, em geral
demorava-me 8 a 10 meses só para identificar as coisas e tentar arranjar outro
lugar. Pronto, lá estavam as coisas e lá começava, de novo, a trazer tralhas
para dentro de casa. Muito lixo acumulamos. Não podemos dizer absolutamente
inúteis, mas que dão um bocado de trabalho, ah, lá isso é verdade.
Assustamos-nos em pensar que saímos de
casa dos pais com uma mala pequena, e, o quanto acumulamos durante a vida. As
perdas muitas vezes são doloridas e terríveis. Outras, insignificantes, outras,
logo nos esquecemos delas. Assim como as mudanças, as nossas vidas implicam
diariamente em mudanças traumáticas e desconfortantes as quais teremos de nos
acostumar ou a nos ajustarmos a elas. É a lei da inexorabilidade das coisas.
12/02/2013
As vezes as coisas se inverte, saímos da casa de nossos pais com muitos bens, em busca de uma felicidade que pode acontecer por alguns dias, meses, anos...saímos cheios de bagagens, cheios de livros, espelhos, camas, xícaras, copos, taças para brindar a nova vida.E as vezes, digo, as vezes, temos que voltar, sem nada, só com o que somos, com nossa essência, sem sonhos, sem projetos, apenas voltar tentando acreditar de novo, se readaptar de novo, seguir em frente, juntando os cacos deixados pelas mudanças.
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