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segunda-feira, 27 de junho de 2011

O CIRCO DO PEDRO CORUJA.


Programada para a noite daquela sexta-feira, Pedro Coruja pretendia abalar a cidade através do seu circo, trazendo atrações realmente diferentes do que até então havia apresentado em outras cidades. Aquela temporada de apresentações deixara a companhia circense absolutamente feliz com as perspectivas de em cada cidade repetir os sucessos das outras. Do palhaço Cheiroso às formosas rumbeiras deslumbradas, desde o artista mais humilde ao malabarista todos trabalhavam com frenesi para levar o circo aos píncaros da glória. Os salários estavam em dia, a lona estava novinha, os animais bem alimentados e a artistagem não mais estava obrigada a dormir sob a empanada, sobre as tábuas das gerais. Tudo isto acontecia exatamente pela excelente administração do Pedro Coruja e a sua fama de proprietário capaz.

Razão, pois, encontravam os artistas quando receberam ordens de hospedagens nos hoteis mais disponíveis e melhores da cidade, estando tamanha fartura se repetindo desde outras cidades por onde passaram. Já não eram obrigados a se alimentarem mal nem dormirem sem conforto, bem como fome não passavam.

Na sexta-feira será apresentado um espetáculo em três atos, drama de repercussão, onde a protagonista seria uma mulher da Idade Média que por te sido infiel ao esposo fora condenada pelo rico senhor a morrer pelo punhal vingativo, com a sanção social,.

O palhaço Cheiroso com suas enormes perna de pau, desde a segunda-feira havia anunciado o espetáculo, dando bastante ênfase ao dramalhão, coroando deste modo o valor do mesmo. Além do mais, como incentivo, Pedro Coruja resolvera ao mesmo tempo promover aquilo a que chamava de “a noite dos casais”. Ou seja, quem fosse acompanhado de uma figura feminina qualquer, só pagaria uma entrada, ou o ingresso do cavalheiro.

Por motivos óbvios, a função só começava mesmo lá para as nove horas da noite, muito embora o circo sempre anunciasse que começaria impreterivelmente às oito da noite. Assim, esperavam os responsáveis lotar o circo desde o “poleiro” até os camarotes que afinal não passavam de cadeiras bem dispostas, algumas não suportando o peso dos expectadores, quebrando-se entre uma apresentação ou outra da artistagem e fazendo, nessas ocasiões, que as galerias assobiassem e gritassem em vaias terríveis para sufoco do infeliz que acaso fosse o acidentado.

O relógio já marcava quinze para as nove da noite quando de repente uma mulher trajando um lindo vestido cintilante, cor preta, sapatos à Luiz XV adentrou aos camarotes sendo conduzida por um trapezista, rapagão que possuía, para seu desespero uma parte da cabeça absolutamente lisa de cabelos, tendo sido provavelmente resultado de alguma queda na sua arriscada profissão, obrigando-o por conseguinte, ao uso de um chapéu à cowboy, só o retirando mesmo quando substituía por uma amarfanhada peruca que lhe escondia o terrível defeito.

Este no lugar do lanterninha dos camarotes conduzia respeitosamente a bela mulher, de todos conhecida, na figura da nossa já famosa e conhecida que era dona Carminha. O circo quase veio a baixo no alvoroço da gandaia jovem. Assovios intermináveis, gritos, ofensas e vaias e mais vaias as mais variadas aumentando o dissabor especialmente dos vizinhos de cadeiras de dona Carminha. Na cabeça u fino e reluzente broche de madrepérola encimado por seis cristais reluzentes cravejados de rubis vermelhos que multicoloriam quando ela fazia o menor movimento com a cabeça. Um chale preto sobre os ombros descia até a altura das nádegas, em cascata, bruxuleante e de cores negras. Os sapatos ornados com fivelas minúsculas da cor da mesma combinação geral da roupa, e um farto decote mostrava as lindas costas nuas até abaixo da linha da cintura deixando os fartos e apetitosos seios quase à mostra. Ao sentar-se na cadeira simples, as nádegas da senhora encaixaram-se entre a madeira lateral da cadeira afundando e projetando-se a fartura roliça e bem proporcionada, como se entalada estivesse naquela cadeira de circo.

A professora Vânia ao lado começou a dar mostras de impaciência, pois esperava ao seu lado uma outra senhora da sua tradicional sociedade, começando, para desespero de Carminha, a cochichar com o marido do outro lado de si. Via-se que a professora não estava muito à vontade, mostrava-se inquieta e denunciava a simples presença de Carminha sentada ali, desavergonhadamente, logo perto dela, uma das mais recatadas daquela comunidade.

Por toda a área do camarote via-se perfeitamente o mal estar das demais senhoras, muito embora Carminha ainda não tivesse descambado para a vida de boemia como mais tarde iria fazer e ser encontrada disponível para quem pagasse, em disponibilidade para quem quer que a pretendesse.

A ponta de inveja era sensível uma vez que Carminha vestia-se com aprumo e beleza, gastava roupas caríssimas, vinha de família que lhe fazia todas as vontades e desejos, usava jóias refinadas e, naquelas circunstâncias, não era justo que Carminha tivesse a ojeriza das demais mulheres, inegavelmente no seu porte e vestir-se como ela, poucas ou quase nenhuma sabia. Quando vivia com o marido era verdade que este a presenteava de todas as maneiras cobrindo-a de ouro e de finas roupas. A inveja aliava-se, pois, à maledicência com a agravante de ser ainda uma das mais jovens mulheres.

O relato do Quitinho, seu primeiro amante e, logo depois o rapaz que lhe servira como motorista com ela teria mantido relações sexuais no caminho de Bonfim, fazia com que ela fosse encarada como infiel, e, por isso deveria pagar pelos pecados horríveis os quais consistiam em ter cedido na fraqueza do turbilhão da carne embrasada, especialmente para rapazes tão jovens.

Dispunha assim toda a sociedade aliada ao fato de ter sido infiel mesmo e ter sido esposa de um homem sério e trabalhador, porém acomodado, por todos os títulos. Sendo o seu marido homem benquisto, não era de surpreender aquelas damas demonstrando tanta ira contra ela. Alguém diria que Carminha havia decaído no caminho da avoenga mariposa dos lupanares, outros diziam que ela obedecera aos instintos desenfreados da carne que não liga para a sociedade. Mas quantas ali provavelmente não tiveram a oportunidade de se darem, ou quantas não cederam e, talvez, por sorte, nunca foram pegas ou descobertas? O pecado tornado público é o execrado por todos.

Ela teve a coragem e a ousadia de assumi-se e escolher seu fadário. E isto o fazia por convicção, daí instar às suas companheiras a se igualarem a qualquer mulher, casada ou não.

Iniciada a função lá estava toda a trupe se apresentando para o público. Palhaços, malabaristas, mulher- de -bigode, rumbeiras e todo o elenco. O palhaço Risonho, cara colorida, enorme bocarra, achegou-se ao meio do picadeiro, calças folgadas, sapatos de quase meio metro de comprimento a fazer gracejos. Carminha ria como toda criança no circo já que ali adulto se transmuda em criança!

Após o palhaço entra um casal de adivinhos de circo. O homem vestia impecável smoking aproximou-se de Carminha, tomou sua mão, retirou o anel de brilhantes e perguntou,de costas sentada no meio do picadeiro a adivinha, com uma venda preta sobre os olhos respondeu que era um anel, como vestida estava e em que fila da cadeira. O circo quase vem abaixo. A algazarra ensurdecedora escondia uma voraz crítica. Lá, da geral, alguém gritara: “É da puta do Quitinho”! Mas Carminha estoicamente resistiu. Não abaixou a cabeça, não ruborizou, recolocou o anel no dedo e, com as pernas magnificamente cruzadas permaneceu impassível.

Os trapezistas evoluam nas alturas e Carminha absorta, olhar grudado no trapézio. “Voador –de-ouro” dava saltos e fazia piruetas, saltos mortais no ar, desafiando a gravidade terminando sua apresentação, chegou-se até ela, retirou do bolso uma rosa amassada entregando-a dizendo palavras ininteligíveis.

Um a um o elenco se apresentou chegando finalmente a derradeira e última apresentação da noite. Era o drama em três atos em que no primeiro seria retratada a vida normal que casal da Idade Média , o segundo de como se apaixonara a mulher pelo empregado da casa e o terceiro a ocorrência da tragédia. O marido descobrira a infidelidade da esposa e resolve por fim à vida da infiel. Vende todos os bens, desterra os filhos para a casa da parentela enquanto no desespero da vergonha torna-se maltrapilho. A infiel não se incomodou continuando a vida nababa de devassidão com o seu novo amante até que o desfecho se faz com aquela punhalada em que deixava cair papel crepom picadinho, dando a impressão de sangue de verdade. A impassividade de Carminha era vista de longe por isso que, quando a mulher foi apunhalada na peça ela abaixou a cabeça enquanto dos seus negros olhos duas lágrimas rolaram grossas.

Evacuado o circo, finda a função, Carminha lá permaneceu. Dir-se-ia que ficara petrificada com a cena do assassinato e, ainda mais com a semelhança e identificação da sua própria história. As luzes se apagaram, todos se foram, menos Carminha.

No outro dia, entre sete e oito do dia, toda despenteada, as roupas amassadas, imensas olheiras diziam perfeitamente que Carminha não teve uma noite de bom sono.

Depois se soube.

Carminha no desvario da sua alma e sina havia seduzido o artista do circo que fazia o papel de empregado e conquistador da patroa na cena da peça e história.

Subiram as gerais, juntaram algumas tábuas que serviam de assento para os expectadores e fizeram amor até o dia raiar.

Carminha provava para o artista que a vida realmente imita a arte.

***

Junho de 1971.

terça-feira, 21 de junho de 2011

JOANINHA E A SEXTA-FEIRA SANTA

Amanhecera o ia, o sol brilhava por trás do cabeço do monte, não obstante o Buraco da Vitória deixasse uns restinhos de fina neblina embrumando a vegetação, dando um toque bem distante de paisagem européia.

Acorriam os mais católicos para o sopé do Morro do Cruzeiro, daí rumando em penosa e estafante subida até alcançar o cimo, aonde plantadas se encontram duas cruzes, restos e sinas da religiosidade da população, visita obrigatória de crentes e incrédulos, mais pelo fato de representar sua subida, ocasião impar para tomar alguns goles de cachaça safada, daquela que matou o guarda, baldeada pelo “seo” Joelzão[1]numa proporção gigantesca de água e outros químicos miseráveis, aumentando o desvario os bêbados e dos infelizes que se arriscavam a beber aquele purgante branco, puro álcool desdobrado.

Fato é quem cada um do adolescente ao velho, da mulher idosa à mocinha, ali todos se encontravam e se regalavam com uns golinhos da cachaça naquelas alturas se assemelhando a fino manjar rebatendo o calor e o aperto no peito pela subida íngreme de mais e 500 metros de pura ladeira cheia de pedregulhos.

Os pequenos grupos de mundanos não se misturavam com os penitentes de verdade que lá se iam a subir o monte da Santa Cruz, destacando-se os que criam, dos que em nada criam, senão pelo passeio e na crença inabalável nas sacanagens que a subida permitia aos mais safados e expertos.

Levavam ex-votos, fitinhas, palhas de licurizeiros amarradas nas cabeças e nos pulsos e, uma vez em cima, na frente do cruzeiro de tosca madeira, após acender velas variadas aos seus pés, amarravam de fitas e palhas de licuri em volta do madeirame, que simbolizava o sacrifício, para a cristandade e para aqueles pobres tabaréus de Itiúba.

De araque eram os visitantes. O que se pretendia mesmo, era só aproveitar os lapões e grotões de rara beleza que a sacanagem sem nexo e muito sexo, sem moral religiosa, preferia se acoitar nas oportunidades. Esgueirando-se por ente fendas fantásticas os mais jovens conseguiam descer para uma espécie de patamar, verdadeira furna alisada e fria pelo mijo dos mocós[2], pelas excrescências de morcegos, merda de calangos, coroços vomitados e cagados por raposas, guaxinins e sariguês.

O teto miraculosamente desafiador das leis da gravidade apresentava uma superfície quase completamente Isa que se ia estreitando paralela e perpendicular ao piso e teto, caprichosamente segura por cunhas feitas pela natureza num espetáculo de rara beleza, embora fugaz na sua extensão, caprichosamente deixada ali pela natureza inexplicável, possivelmente de um período terciário ou da circunvolução da terra, num processo de resfriamento ou de algum cataclismo eras idas.

Os mais velhos e antigos desde os tempos da Vila do São Gonçalo, não deixavam de se perder em elucubrações sobre homens que ali teriam vivido, de Índios Cariacás que a habitaram, nos famosos “causos” que a fantasia nossa não dispensa. Fato é que, para os contemporâneos, a Loca do Cruzeiro possuía além da sua beleza, aprazível, recanto para tomar umas caninhas com as meninas, suspender as saias e vestidos selvagemente, à melhor oportunidade, começar uma libidinagenzinha que não raro levava muitos afoitos aos casamentos precoces.

O sol causticante queimava a pele da sertanejada. Era verdade que a Joaninha estava acostumada a namoricos, não sendo raro um dos garotos que já não tivesse tido a oportunidade de abraçar e apertar Joaninha,pois era das moças da região a mais “falada”[3] e “bassoura” das redondezas, sendo muito desejada não apenas por garotos que He bolinava as têtas duras e intumescidas da Joaninha, conhecida de velhos oitões, das festas de casamento uma vez que a meninada sabia que após as festas de largo, era só esperar Joaninha indo pra casa, que a malandraria já sabia que passado o reflexo dos becos e das ruelas, acabadas as lâmpadas da rua e sua luminosidade, algum rapaz a seguiria até encontrar o primeiro lugar mais escuro e, uma vez alcançada, o convite fatal e a sua aceitação eram favas contadas.

Não foram poucas as vezes em que Joaninha se envolvera com a rapaziada, tendo vezes em que ela era ao mesmo tempo acariciada e abraçada de mi maneiras. Nessas ocasiões juntavam-se vários garotos e faziam tudo quanto era desgraça com a pobre da Joaninha que, estoicamente suportava aquela cambada de safados que lhes enfiavam dedos, apalpavam-lhe o monte de Vênus, introduzam dedos até os grandes lábios e até o ânus, local a preferência da cambada que afinal pertence à Nacionalidade Brasileira. Tirando essas libidinagenzinhas, de chupar e mordiscar os peitinhos da Joaninha, só tinha mesmo era “infinca-pé” da cambada nos oitões das casas onde se realizavam alguma festa, no escurinho especialmente se a festa ou festas realizavam-se em algum casebre da zona rural.

Os pais não deixavam as filhas andassem com a Joaninha porque a cambada que dela se servia espalhava maledicentemente nas redondezas, as misérias com a Joaninha feitas, mas o certo é que ninguém havia ainda bebido, de verdade, do poço de prazer da Joaninha. Naquele túnel que ficaria famoso por várias gerações de calças curtas não havia sentido nada, senão meras e inocentes dedadas que a corja tola da rapaziada inocente se aventurava, muitos capões [4] de “gala rala” que se assombrava e até corriam, mas sonhavam em ter uma mulher de verdade ou mesmo terem de enfrentarem o puteiro do Beco-do-quebra-faca nos concorridos finais de semana, afugentados por bêbados e valentões que faziam as histórias da região e fazia moleque covarde mijar nas calças e não mais importunavam as mulheres do puteiro.Na verdade, a meninada acabava mesmo era na masturbação nossa de cada dia.

Verdadeiro flagelo, que no dizer e no pensamento da rapaziada a “bronha” ou a “punheta[5]” representava o desafogo salvador, havendo punheteiros impenitentes decididamente acostumados à prática até a exaustão.Joaninha se tornara a virgem mais louca deste mundo, desde os seus treze aninhos, muito chegada as carícias e às delícias da moçada, sem, contudo, ter sido possuída por ninguém vez que não se permitia ir até as últimas consequencias.Tinha um limite.

Acostumada a roçar membros nas pernas e coxas, Joaninha cavalgava como poucas, porém nada de “nudo[6] com nudo”, muito menos penetração peniana, fazendo a exigência de ter de ser mito rápido, pois achava arriscado fazer filho e, sem tirar a calcinha, caso contrário teria de casar. Preventiva a moça. Reconhecia na sua promiscuidade que não tinha senão o desejo de sentir-se feliz e aliviada, assim praticando suas aventuras sexuais, igualmente porque estava convencida de que era “gostosa” e não podia deixar seus namorados sem se satisfazerem. O diabo era descobrir quais namorados, isto porque, Joaninha, Godiva dos trópicos necessitava de um batalhão inteiro para satisfazer os seus prazeres deixando os rapazes todos loucos, porém sem permitir que enfiassem nela, senão dedos e mais nada. Na hora da verdade ela afastava o cabra com um safanão, saía loucamente e desabrida carreira, ajeitando califon, calçola mal vestida e puxando o vestido para o lugar correto.

Desde os treze anos a gata desejada e perseguida por efebos e também por cidadãos circunspectos e velhos pais de família, acima de qualquer suspeita, porque queriam por que queriam, enrabar aquela bichinha, sentir a pobrezinha se estrebuchar dando adeus ao cabaço, tão tocado e de tantos bons serviços prestados na região.

Joaninha subira o Cruzeiro

Por trás das pedras alguns rapazes olhavam entre curiosos e voluptuosos, casais escapados da multidão, burlando parentes e responsáveis, buscavam aqueles plagos para os acasalamentos tão condenados pela igreja católica que, no entanto não conseguia refrear nem frear o ímpeto os sexos em brasa embalados pelas doses de cachaça tapa-de-capuco do “seo’ Joel Grande. Muitos acusavam a cachaça dele como se fosse a culpada daquilo tudo, eis que sob os efeitos da cachacinha que “matou o guarda” a cambada descia para o frenesi incontrolável dos corpos em ardências dos sentimentos, especialmente naquela época de tabus e dogmas proibidos, criados por cada família, sendo o ato sexual verdadeira peripécia, sendo seu autor, não raro, observado e ovacionado como se fosse um animal raro, ato heróico que era o sexual.

Joaninha Pelelê, encarnação da mulher que nascera para ser puta na extensão da palavra, por isso desde os seus primeiros anos de moiçola, quando já trouxera da Fazenda Grotão onde nascera e se criara, a marca que a acompanhara até os seus dias de borboleta dos bordeis miseráveis, de Queimadas a Itiúba; de Itiúba a Senhor do Bonfim; de Picos ao Quicé e de Camandaroba ao Cansanção.

Naquela sexta-fera santa um grupo de rapazes olhava o Chico Perninha, malandro, caboclo fogoso e conquistador apalpando por trás do vestido, derreados sobre aquelas pedras a bunda pequena e farta de Joaninha. Mordiscava os lábios carnudos, pintados em tom vermelho super forte, enquanto uma das mãos louca bailava ao redor dos seios intumescidos da mulher de pouco mais de dezenove anos de idade, com toda a voluptuosidade dos corpos em brasa rolando sobre as pedras lisas e frias daquela furna do Cruzeiro.

Olhos fitos, a molecada pregada naquele casal, assistia espetáculo de rara beleza em que os corpos se desnudavam lentamente, milímetro a milímetro, Joaninha se esforçando para não ceder ou pelo menos fazer de contas, embora querendo que tudo acontecesse. Chico malandro sem pressas, pressionando a fêmea, narinas dilatadas, ancas da Joaninha já à mostra, a bundinha virgem ou semi virgem começando a aparecer, as roliças e esguias pernas a deixar uma nesga da calçola (assim se chamava a roupa íntima da mulher), enquanto a polpa carnuda da bunda da Joaninha aparecia escondendo a borda da perna da calçola, afetada a elasticidade nas dobras da pele, Chico safado resfolegando numa linguagem de amante, instando a moça para a cópula, mil promessas de casamento, de comprar aquela casa bonita e botar ela como sua empregada.

Num gesto mais brusco, o homem consegue desafivelar o cinturão grosso de couro cru e os botões da calça (barriguilha) saltam, e o Chico com as narinas dilatadas, roçando contra Joaninha que já estava com o vestido chitado de bolinhas vermelhas e cavalinhos suspenso até a altura dos peitos, avidamente a anágua dura e engomada, de fustão branco com rendinhas cor de rosa estava sendo arrancado pelos pés de Joaninha que vendo e sentindo seu corpo colado ao do Chico, não mais escoiceava nem se debatia ante os arroubos do garanhão fogoso, sendo e estando absolutamente cúmplice, aquela altura, fogosa donzela, fêmea em desalinho para a posse do macho louco e urrante, apagaram-se as conveniências sociais que caíam por terra, dando lugar somente ao desejo ardente e a busca do prazer que era mais importante, embotando qualquer sentimento de rejeição, sem ao menos pensar no que viria depois, saciada da sede de sexo .

Latejante aquele caboclo aprumou o membro, procurou virar a mulher que se abria toda, forçou o busto e dirigiu por entre as pernas da morena Joaninha. Estática sem mais oferecer resistência, cedera. Olhos cerrados, pernas semi dobradas, braços languidamente jogados sobre as pedras que lhes serviam de leito, enquanto o macho cioso ajeitava com a mão o ereto membro dirigindo com o indicador a entrada do túnel de prazer da Joaninha, desvirginando-a.

Olhares de tristeza e decepção perpassaram pela molecada que aprendeu como tratar uma mulher. Naquele dia, frustrados e sem comentários a molecada desprezada pela Joaninha desceria do Alto do Cruzeiro. Joaninha decaíra das alegrias deles.

***

Itiúba, 1971

JOANINHA E A SEXTA-FEIRA SANTA.

Amanhecera o ia, o sol brilhava por trás do cabeço do monte, não obstante o Buraco da Vitória deixasse uns restinhos de fina neblina embrumando a vegetação, dando um toque bem distante de paisagem européia.

Acorriam os mais católicos para o sopé do Morro do Cruzeiro, daí rumando em penosa e estafante subida até alcançar o cimo, aonde plantadas se encontram duas cruzes, restos e sinas da religiosidade da população, visita obrigatória de crentes e incrédulos, mais pelo fato de representar sua subida, ocasião impar para tomar alguns goles de cachaça safada, daquela que matou o guarda, baldeada pelo “seo” Joelzão[7]numa proporção gigantesca de água e outros químicos miseráveis, aumentando o desvario os bêbados e dos infelizes que se arriscavam a beber aquele purgante branco, puro álcool desdobrado.

Fato é quem cada um do adolescente ao velho, da mulher idosa à mocinha, ali todos se encontravam e se regalavam com uns golinhos da cachaça naquelas alturas se assemelhando a fino manjar rebatendo o calor e o aperto no peito pela subida íngreme de mais e 500 metros de pura ladeira cheia de pedregulhos.

Os pequenos grupos de mundanos não se misturavam com os penitentes de verdade que lá se iam a subir o monte da Santa Cruz, destacando-se os que criam, dos que em nada criam, senão pelo passeio e na crença inabalável nas sacanagens que a subida permitia aos mais safados e expertos.

Levavam ex-votos, fitinhas, palhas de licurizeiros amarradas nas cabeças e nos pulsos e, uma vez em cima, na frente do cruzeiro de tosca madeira, após acender velas variadas aos seus pés, amarravam de fitas e palhas de licuri em volta do madeirame, que simbolizava o sacrifício, para a cristandade e para aqueles pobres tabaréus de Itiúba.

De araque eram os visitantes. O que se pretendia mesmo, era só aproveitar os lapões e grotões de rara beleza que a sacanagem sem nexo e muito sexo, sem moral religiosa, preferia se acoitar nas oportunidades. Esgueirando-se por ente fendas fantásticas os mais jovens conseguiam descer para uma espécie de patamar, verdadeira furna alisada e fria pelo mijo dos mocós[8], pelas excrescências de morcegos, merda de calangos, coroços vomitados e cagados por raposas, guaxinins e sariguês.

O teto miraculosamente desafiador das leis da gravidade apresentava uma superfície quase completamente Isa que se ia estreitando paralela e perpendicular ao piso e teto, caprichosamente segura por cunhas feitas pela natureza num espetáculo de rara beleza, embora fugaz na sua extensão, caprichosamente deixada ali pela natureza inexplicável, possivelmente de um período terciário ou da circunvolução da terra, num processo de resfriamento ou de algum cataclismo eras idas.

Os mais velhos e antigos desde os tempos da Vila do São Gonçalo, não deixavam de se perder em elucubrações sobre homens que ali teriam vivido, de Índios Cariacás que a habitaram, nos famosos “causos” que a fantasia nossa não dispensa. Fato é que, para os contemporâneos, a Loca do Cruzeiro possuía além da sua beleza, aprazível, recanto para tomar umas caninhas com as meninas, suspender as saias e vestidos selvagemente, à melhor oportunidade, começar uma libidinagenzinha que não raro levava muitos afoitos aos casamentos precoces.

O sol causticante queimava a pele da sertanejada. Era verdade que a Joaninha estava acostumada a namoricos, não sendo raro um dos garotos que já não tivesse tido a oportunidade de abraçar e apertar Joaninha,pois era das moças da região a mais “falada”[9] e “bassoura” das redondezas, sendo muito desejada não apenas por garotos que He bolinava as têtas duras e intumescidas da Joaninha, conhecida de velhos oitões, das festas de casamento uma vez que a meninada sabia que após as festas de largo, era só esperar Joaninha indo pra casa, que a malandraria já sabia que passado o reflexo dos becos e das ruelas, acabadas as lâmpadas da rua e sua luminosidade, algum rapaz a seguiria até encontrar o primeiro lugar mais escuro e, uma vez alcançada, o convite fatal e a sua aceitação eram favas contadas.

Não foram poucas as vezes em que Joaninha se envolvera com a rapaziada, tendo vezes em que ela era ao mesmo tempo acariciada e abraçada de mi maneiras. Nessas ocasiões juntavam-se vários garotos e faziam tudo quanto era desgraça com a pobre da Joaninha que, estoicamente suportava aquela cambada de safados que lhes enfiavam dedos, apalpavam-lhe o monte de Vênus, introduzam dedos até os grandes lábios e até o ânus, local a preferência da cambada que afinal pertence à Nacionalidade Brasileira. Tirando essas libidinagenzinhas, de chupar e mordiscar os peitinhos da Joaninha, só tinha mesmo era “infinca-pé” da cambada nos oitões das casas onde se realizavam alguma festa, no escurinho especialmente se a festa ou festas realizavam-se em algum casebre da zona rural.

Os pais não deixavam as filhas andassem com a Joaninha porque a cambada que dela se servia espalhava maledicentemente nas redondezas, as misérias com a Joaninha feitas, mas o certo é que ninguém havia ainda bebido, de verdade, do poço de prazer da Joaninha. Naquele túnel que ficaria famoso por várias gerações de calças curtas não havia sentido nada, senão meras e inocentes dedadas que a corja tola da rapaziada inocente se aventurava, muitos capões [10] de “gala rala” que se assombrava e até corriam, mas sonhavam em ter uma mulher de verdade ou mesmo terem de enfrentarem o puteiro do Beco-do-quebra-faca nos concorridos finais de semana, afugentados por bêbados e valentões que faziam as histórias da região e fazia moleque covarde mijar nas calças e não mais importunavam as mulheres do puteiro.Na verdade, a meninada acabava mesmo era na masturbação nossa de cada dia.

Verdadeiro flagelo, que no dizer e no pensamento da rapaziada a “bronha” ou a “punheta[11]” representava o desafogo salvador, havendo punheteiros impenitentes decididamente acostumados à prática até a exaustão.Joaninha se tornara a virgem mais louca deste mundo, desde os seus treze aninhos, muito chegada as carícias e às delícias da moçada, sem, contudo, ter sido possuída por ninguém vez que não se permitia ir até as últimas consequencias.Tinha um limite.

Acostumada a roçar membros nas pernas e coxas, Joaninha cavalgava como poucas, porém nada de “nudo[12] com nudo”, muito menos penetração peniana, fazendo a exigência de ter de ser mito rápido, pois achava arriscado fazer filho e, sem tirar a calcinha, caso contrário teria de casar. Preventiva a moça. Reconhecia na sua promiscuidade que não tinha senão o desejo de sentir-se feliz e aliviada, assim praticando suas aventuras sexuais, igualmente porque estava convencida de que era “gostosa” e não podia deixar seus namorados sem se satisfazerem. O diabo era descobrir quais namorados, isto porque, Joaninha, Godiva dos trópicos necessitava de um batalhão inteiro para satisfazer os seus prazeres deixando os rapazes todos loucos, porém sem permitir que enfiassem nela, senão dedos e mais nada. Na hora da verdade ela afastava o cabra com um safanão, saía loucamente e desabrida carreira, ajeitando califon, calçola mal vestida e puxando o vestido para o lugar correto.

Desde os treze anos a gata desejada e perseguida por efebos e também por cidadãos circunspectos e velhos pais de família, acima de qualquer suspeita, porque queriam por que queriam, enrabar aquela bichinha, sentir a pobrezinha se estrebuchar dando adeus ao cabaço, tão tocado e de tantos bons serviços prestados na região.

Joaninha subira o Cruzeiro

Por trás das pedras alguns rapazes olhavam entre curiosos e voluptuosos, casais escapados da multidão, burlando parentes e responsáveis, buscavam aqueles plagos para os acasalamentos tão condenados pela igreja católica que, no entanto não conseguia refrear nem frear o ímpeto os sexos em brasa embalados pelas doses de cachaça tapa-de-capuco do “seo’ Joel Grande. Muitos acusavam a cachaça dele como se fosse a culpada daquilo tudo, eis que sob os efeitos da cachacinha que “matou o guarda” a cambada descia para o frenesi incontrolável dos corpos em ardências dos sentimentos, especialmente naquela época de tabus e dogmas proibidos, criados por cada família, sendo o ato sexual verdadeira peripécia, sendo seu autor, não raro, observado e ovacionado como se fosse um animal raro, ato heróico que era o sexual.

Joaninha Pelelê, encarnação da mulher que nascera para ser puta na extensão da palavra, por isso desde os seus primeiros anos de moiçola, quando já trouxera da Fazenda Grotão onde nascera e se criara, a marca que a acompanhara até os seus dias de borboleta dos bordeis miseráveis, de Queimadas a Itiúba; de Itiúba a Senhor do Bonfim; de Picos ao Quicé e de Camandaroba ao Cansanção.

Naquela sexta-fera santa um grupo de rapazes olhava o Chico Perninha, malandro, caboclo fogoso e conquistador apalpando por trás do vestido, derreados sobre aquelas pedras a bunda pequena e farta de Joaninha. Mordiscava os lábios carnudos, pintados em tom vermelho super forte, enquanto uma das mãos louca bailava ao redor dos seios intumescidos da mulher de pouco mais de dezenove anos de idade, com toda a voluptuosidade dos corpos em brasa rolando sobre as pedras lisas e frias daquela furna do Cruzeiro.

Olhos fitos, a molecada pregada naquele casal, assistia espetáculo de rara beleza em que os corpos se desnudavam lentamente, milímetro a milímetro, Joaninha se esforçando para não ceder ou pelo menos fazer de contas, embora querendo que tudo acontecesse. Chico malandro sem pressas, pressionando a fêmea, narinas dilatadas, ancas da Joaninha já à mostra, a bundinha virgem ou semi virgem começando a aparecer, as roliças e esguias pernas a deixar uma nesga da calçola (assim se chamava a roupa íntima da mulher), enquanto a polpa carnuda da bunda da Joaninha aparecia escondendo a borda da perna da calçola, afetada a elasticidade nas dobras da pele, Chico safado resfolegando numa linguagem de amante, instando a moça para a cópula, mil promessas de casamento, de comprar aquela casa bonita e botar ela como sua empregada.

Num gesto mais brusco, o homem consegue desafivelar o cinturão grosso de couro cru e os botões da calça (barriguilha) saltam, e o Chico com as narinas dilatadas, roçando contra Joaninha que já estava com o vestido chitado de bolinhas vermelhas e cavalinhos suspenso até a altura dos peitos, avidamente a anágua dura e engomada, de fustão branco com rendinhas cor de rosa estava sendo arrancado pelos pés de Joaninha que vendo e sentindo seu corpo colado ao do Chico, não mais escoiceava nem se debatia ante os arroubos do garanhão fogoso, sendo e estando absolutamente cúmplice, aquela altura, fogosa donzela, fêmea em desalinho para a posse do macho louco e urrante, apagaram-se as conveniências sociais que caíam por terra, dando lugar somente ao desejo ardente e a busca do prazer que era mais importante, embotando qualquer sentimento de rejeição, sem ao menos pensar no que viria depois, saciada da sede de sexo .

Latejante aquele caboclo aprumou o membro, procurou virar a mulher que se abria toda, forçou o busto e dirigiu por entre as pernas da morena Joaninha. Estática sem mais oferecer resistência, cedera. Olhos cerrados, pernas semi dobradas, braços languidamente jogados sobre as pedras que lhes serviam de leito, enquanto o macho cioso ajeitava com a mão o ereto membro dirigindo com o indicador a entrada do túnel de prazer da Joaninha, desvirginando-a.

Olhares de tristeza e decepção perpassaram pela molecada que aprendeu como tratar uma mulher. Naquele dia, frustrados e sem comentários a molecada desprezada pela Joaninha desceria do Alto do Cruzeiro. Joaninha decaíra das alegrias deles.

***

Itiúba, 1971



[1] - Todos os nomes e referencias aqui feitas, são fictícios para evitar quaisquer constrangimentos com os personagens que são reais. Qualquer semelhança com pessoas ou lugares,acaso identificados, trata-se e é, mera coincidência. (N. do Autor).

[2] -“Mocó” é uma espécie de roedor muito abundante nos sertões e que fazem abrigos nas pedreiras, semelhante a um preá (porquinho da Índia. (N. do Autor).

[3] - Por “moça falada”, nos sertões indica mulher de pouca boa fama ou de nenhuma boa fama, açulada, afoita e sem normas sociais a obedecer. (N. do Autor).

[4] - Por” capões”, nos sertões, são conhecidos os rapazes que nunca tiveram relações sexuais. (N. do Autor).

[5] - Os termos indicam o ato da masturbação masculina. O termo “punheta” vem do uso dos punhos, daí o significado. (Nota do Autor)

[6] - a expressão nudo com nudo quer dizer, com nudez de ambos os parceiros. (N. do Autor)

[7] - Todos os nomes e referencias aqui feitas, são fictícios para evitar quaisquer constrangimentos com os personagens que são reais. Qualquer semelhança com pessoas ou lugares,acaso identificados, trata-se e é, mera coincidência. (N. do Autor).

[8] -“Mocó” é uma espécie de roedor muito abundante nos sertões e que fazem abrigos nas pedreiras, semelhante a um preá (porquinho da Índia. (N. do Autor).

[9] - Por “moça falada”, nos sertões indica mulher de pouca boa fama ou de nenhuma boa fama, açulada, afoita e sem normas sociais a obedecer. (N. do Autor).

[10] - Por” capões”, nos sertões, são conhecidos os rapazes que nunca tiveram relações sexuais. (N. do Autor).

[11] - Os termos indicam o ato da masturbação masculina. O termo “punheta” vem do uso dos punhos, daí o significado. (Nota do Autor)

[12] - a expressão nudo com nudo quer dizer, com nudez de ambos os parceiros. (N. do Autor)