Quando ela passava pela rua, não
andava, desfilava. Olhares gananciosos e famintos a despiam, arrancando roupas
de alto a abaixo. Nos meus braços sua voz aveludada soava como sinfonia de
instrumentos e, a impressão que se tinha era a de que Deus não economizou nada
para a sua construção.
Pessoas viravam-se ao seu passadiço, absorvidas
pela beleza e pela elegância daquela mulher, loucuras foram feitas, nos segredos
mortais, que a vida se encarrega de guardá-los. Felizardo! Diziam os mais
íntimos, enquanto outros, zangados,
olhares se enviesavam todas as vezes que eu passava com ela. Carícias,
beijos, abraços, afagos e posses voluptuosas tomavam de vez o ser, enquanto
adiava-se a despedida antipatizada e angustiosa.
Passou o tempo. Tempo inexorável que
destrói sonhos, aparências e paixões. Tempo que se encarrega de destiorar os
monumentos, apagar dobras, destruir belezas, sonhos e utopias. Um dia, lá vem
ela com aquele andar de velha. Tento desviar os olhos, esquecer que já a tive
nos braços, que já voamos ao paraíso terrestre, apagamos o tempo e prendemos um
átimo de espaço, na voragem da vertigem que não passa entre afagos e promessas
eternas que se deseternalizam na destruição inexorável do tempo fortuito e
passageiro. Desejo que não se concretiza de apagar a visão. Carcomida pelo
tempo, lá vai ela, rugosa, absorvida na sua velhice, perdida nos próprios
pensamentos, absorta na sua infelicidade e esquecida de que um dia qual Vênus
brilhante assombrou almas e afagou egos, serviu de inspiração e norteou as
vidas de muitos.
Destiorada a vida vai varrendo e
apagando os restos da nossa vaidade.
“Vanitas, vanitatum”.
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