Existem sujeitos que nascem com
verdadeiro carisma. O “Teia” é um desses. Nascido em Itiúba, pequena cidade
encravada nos sertões da Bahia, filho de um ex-prefeito, antigo coronel,
prefeito por várias vezes, com curral eleitoral cativo, e, bem amarrado, era
filho do senhor Belarmino Pinto de Carvalho, homem de sorriso afável, saído das
caatingas para a cidadezinha, embora sendo pobrezinho, conseguiu, por essas
coisas inexplicáveis, tornar-se “coronel” sertanejo... e prefeito por várias
legislaturas.
O “Teia” cursou o primário, e, parece
que jamais saiu de Itiúba, e, com a morte do seu pai, parece ter herdado a loja
de tecidos que ficava bem no centro da cidade, embora todos os seus parentes
tenham saído da cidade. Casara-se ainda jovem com uma professora filha do
senhor Damasceno, moça recantada e fina
educação doméstica quanto acadêmica, atraída, possivelmente, pela posição
familiar e pelo conceito que a família do “Teia” possuía. Com a morte do senhor
Belarmino o “Teia”continuou residindo
no belo casarão da família de onde só saiu para ir morar em Salvador, e, ao que
parece, curtia uma aposentadoria cedo e compulsória.
Era um sujeito bonachão e de sorriso
largo e fácil, chegado a umas cachaçadas da pesada, mas nada que incomodasse a
quem quer que seja. Montava e vivia pedalando em uma bicicleta que era pilotada
por ele com duas braçadeiras amarradas às bocas da calça para evitar se
enroscassem na corrente, usava óculos de aros grossos e lentes de grau profundo,
aliviando sua miopia, sendo portador de
um humor ferino que fazia com que todos rissem das suas piadas. Vez ou outra o
“Teia” era acometido de umas doidices passageiras que terminavam por ceder na
base de remédios.
Parede que não era lá bom comerciante,
terminando, ao que parece, por fechar a loja, passando-a adiante. Todos os dias
o “Teia” era visto encostado em alguma parede no centro da cidade olhando o
movimento, reencontrando amigos e contando suas indefectíveis piadas, embora
fosse um sujeito até com certa timidez. O “Teia” foi, sem dúvida, um desses
meteoritos que passaram e deixaram seu rastro de simplicidade em Itiúba.
Não sei se o “Teia” ainda está vivo.
Se for, aquele abraço.
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