Um deles tinha por sobrenome Leite. Era chamado de João do Leite. Seu
pai era um negro retinto como a cor da mais profunda noite, de família muito
boa e educada. Conheci o seu pai bem velhinho. Família muito decente e de
aceitação na sociedade local.
O outro, também João, mas de sobrenome “do Rio”. Não sei se mero apelido
dado por imitação a um João do Rio que foi excelente cronista da vida do Rio de
janeiro. Este João do Rio de Itiúba era um senhor branco de cabelos escorridos,
charuto mordido e amassado pendendo dia e noite da boca, andando com
dificuldades e comprando e revendendo ovos e galinhas caipiras, morava com o
seu filho único, de nome-Armando do João do Rio-ao que se saiba, num casarão da
Rua da Estação. Dizia-se que seu pai, João do Rio, fora no passado, um homem de
muitas posses e riquezas que foram esbanjadas com a mulherada da vida.
Mulheres! Sempre as mulheres!
O Armando do João do Rio vez ou outra desaparecia de Itiúba e se escafedia
ao que se sabia, para a capital do Salvador. Cabo de alguns meses retornava
sempre vestindo um impecável terno branco e sapatos igualmente brancos e
limpos. Afundava na cachaçaria e vivia largado pelas ruas da cidade e nos becos
das mariposas da vida de todos nós em certo tempo da vida. Não trabalhava. Era
o mais total “bom vivant” devendo a existência às esmolas e ajuda das pessoas.
Não namorava, pois as moças da cidade o reputavam indigno. Não tomava banho.
Não tirava a roupa enquanto durasse e acabasse em farrapos, e vivia sempre as
turras com o seu velho pai, ao total abandono social e moral.
Armando Rios hoje é um espectro desaparecido que passou pela vida boemia
e irresponsável, provavelmente falecido em algum beco da existência,
desaparecendo na dobra da esquina que não espera passagem para os mortais que
seguem por ela.
O João do leite desapareceu depois de cortar o pescoço de um homem com
uma navalhada, quase o degolando, chamado Dazo ou Dazio, não se conhece a
grafia correta, e desapareceu possivelmente internado em algum manicômio de
Salvador.
Dois destinos selados pela cachaça.
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Correção.O nome da pessoa que teve o pescoço cortado é Brás e ainda vive em Itiúba. O João filho do Leite, desapareceu nas dobras do tempo.
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