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segunda-feira, 8 de julho de 2013

MALAQUIAS E O LOBISOMEM DE ITIÚBA.



     Ele era um homem de baixa estatura, analfabeto, muito valente e, sobretudo um notívago. Empregado da Prefeitura Municipal de Itiúba na qualidade de vigia noturno, tio Malaquias não se assombrava ou, pelo menos parecia não se assombrar com nada deste mundo. Dele aprendi que não devemos temer nada e costumava ensinar-me, quando criança, o lugar mais seguro para descansar e passar uma noite: o cemitério.
     Tinha razão o meu tio. Semana Santa dessas cavernosas  em que todos se recolhiam aos seus lares, os cachorros da Rua do Alto  ladravam fora do normal, uma pequena luz de lua mau iluminava os caminhos e a noite assemelhada ao malefício prenunciava que coisa boa não estava vindo naquela direção. Não existia luz elétrica. Uma pane no velho motor da cidade a que todos crescemos e nos acostumas a ver, parou de fornecer energia deixando-o, como sempre, fora de ação enquanto uma peça vinha da capital. Demorava meses, até ano.
     Na medida em que tio Malaquias subia em direção á Rua do Alto a cachorrada aumentava os latidos e grunhidos. Quando estava prestes a colocar o pé na pequena e grossa tábua que servia de pinguela, na ponte do Riacho que corre do Açude do Coité, avistou aquele monstrengo cabeludo e assustador, besta fera do outro mundo, vindo atrás de si o séquito imenso de cachorros vorazes e zangados que parecia vinha lacerando o rabo e as pernas do lobisomem.
     Tio Malaquias recuou dois passos, encarou e ficou frente a frente com o lobisomem, figura descomunal e asquerosa do outro mundo, que brecou, e estancou subitamente na sua marcha batida.
     Tio Malaquias desceu-lhe o porrete. Em seguida, o atarracado Malaquias sentou o porrete pela segunda vez.
     Surpresa:
    O lobisomem falou. E, pior: fez uma profunda indagação.
    - Malaquias desgraçado, sou eu!
     -Eu quem? Filho de uma p.?
     Antes que o resfolegar cansado e ofegante do lobisomem se recompusesse, tio Malaquias acertou-lhe mais uma porretada que o deixou o pobre lobisomem completamente grogue e cambaleante, quando o lobisomem, que sabia o nome de Malaquias resolveu refeito o susto e a porretada, identificar-se.
     Tratava-se de um conceituado Chefe Político da cidade, de muito conceito. Subira até o a Rua do Alto para manter relações sexuais com uma prostituta conhecida por Isaura, para tanto se aproveitando do silêncio e do temor das pessoas trancadas em suas casas, para manter o anonimato. Era casado com uma das mais belas mulheres que já se viu sobre a terra, ela de uma “finesse” espetacular. Vestira-se de lobisomem para visitar a prostituta e para que não fosse descoberto na sua intimidade. Coisa de mortais comuns.
     Com a chegada da luz elétrica em Itiúba, como os sertanejos chamavam a luz vinda pelos cabos elétricos de Paulo Afonso, as mulas, os lobisomens e todas as assombrações desapareceram dando lugar ao progresso e ao conhecimento, a religião que prega a verdade, a Salvação em Cristo Jesus desmascarando as fábulas e lendas do catolicismo e apagando os medos que ela infundiu tanto nas mentes das pessoas, derrubando as superstições e as fabulas descabidas, padres e freiras fazem amor e namoram escancaradamente, sepultando as nunca existentes mulas de padres, nem lobisomens.
     Hoje em dia não se fala mais em mulinhas nem em lobisomens. Tio Malaquias morreu, enquanto ao sopé das montanhas, rodeada delas, a cidade continua aquela vida sertaneja na modorra que o tempo se encarrega de vivenciar pelas recordações dos seus filhos.
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