A década, se a memória não nega, era a de “70”. Lobisomens, mulinhas,
assombrações diversas povoam o mundo de Itiúba. Não existia luz elétrica
enquanto a geração do tempo acostumou a se ver às escuras quando o velho
Caterpillar a diesel, renitente e teimoso, desafiando o velho Mota, seu
mecânico exclusivo, se negava a continuar batendo suas bielas, a iluminar a
cidadezinha, deixando, muitas vezes, por vários meses, a cidade de Itiúba
completamente às escuras.
Era a deixa, a ocasião propicia
para as mulas de padres e os lobisomens povoarem, cruzarem e se entregarem aos
amores pecaminosos do outro mundo, tempos de assombração, de medo e de terror
para o sertanejo. Um mal indisfarçável pavor tomava conta de todos se a
coincidência fosse durante a chamada semana santa.
Essa tradição da mula sem cabeça a espojar-se nos esponjeiros dos
animais nos campos, veio, certamente da Europa, criação do catolicismo para
denunciar e amedrontar padres que mantinham relações sexuais com mulheres
casadas ou não, quebrando o voto de celibato. O lobisomem foi, também, criação
da mesma igreja católica para amedrontar as pessoas que não promoviam o
batizado dos seus filhos no rito católico, deixando-os pagãos. Para que apressassem
os óbolos (dinheiros) para as burras da igreja católica, era necessário dar uma
mãozinha na fé daqueles católicos um tanto incrédulos, amedrontados,
supersticiosos e até mesmo de pouca fé.
Mas nos sertões, durante a semana santa era época de festas para a saída
dos lobisomens e das mulas sem cabeça. Os cães ladravam a noite toda e as
histórias se multiplicavam com os pais plantando no universo daquelas pequenas
mentes o medo, o terror e o pavor, reviventando e relembrando os terrores dos
infernos e da condenação eterna. As pessoas ficavam dentro de casa amedrontadas
e apavoradas, não deixavam seus filhos saírem enquanto as histórias revividas
voltavam ao medievalismo, coroavam as histórias de pleno êxito, e preparava os
casais amasiados e em pecado, em
amancebamento, ao casamento católico. Sim, o casamento civil era condenado pela
igreja católica e, único que tinha valia era o casamento eclesiástico,
rendendo-lhe dinheiro para a celebração, já que o comercio sempre foi prática
corriqueira que terminou por apressar um pouco as práticas do, uma vez que a
república só passou a ser aceita pelo Vaticano, na década de 1970 em diante.
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