Tornei-me advogado desde 1969 indo
estabelecer escritório na cidade em que até hoje, afastado, voluntariamente da
advocacia, vivo. Criminalista que fui, visitei muitas cadeias em busca de inquéritos,
e, para livrar clientes. Nelas vi e assisti a tortura mais depravada e perversa
que a mente comete. Mas, só agora, a Comissão da Verdade parece ter descoberto.
Faz menos de três semanas, estava eu em um restaurante quando chegaram
três advogados e um carcereiro, por sinal, este último um meu ex-aluno e,
sentarem-se à minha mesa para um dedo de prosa. Duas advogadas bem jovens e
incipientes na profissão puxaram conversas dizendo ser um prazer conhecer a
“lenda” que foi o Max. Não aceitei o elogio, porque imerecido, e, logo
começamos a falar sobre delegacias e outras atividades, ocasião em que eu disse
que a tortura nas delegacias era coisa comum e corriqueira, terminando por
fazer uma afirmação de que “aqui mesmo se
pratica a tortura terrível”. O carcereiro foi atacado de comichão e
retirou-se indignado para nunca mais retornar. Fiz de contas que não entendi o
seu infame recado. O papo continuou e comecei a discorrer e a falar das ações
das nossas polícias e de como a tortura é praticada, de como juízes são omissos
e não apuram nem muito menos punem os seus responsáveis, tudo numa conivência
de doer. Cansei de levar notícias e denúncias de presos sendo torturados
barbaramente e pedido presença do juízo
que sempre torcia o nariz. São uns coniventes sem coragem e sem humanidades. Uns
coverdes e omissos, refestelados em suas poltronas imperiais como se
transportadores de reis nas suas barrigas. Boçais, o mundo que se dane.
Dependentes de policiais, trocam a corrupção e a cegueira conveniente, pela
proteção que pensam ter.
Quando os presos relatam torturas, os
juízos simplesmente não lhes dão credibilidade. As pessoas humanas
desapareceram diante do fato de serem acusadas de variados crimes. Ainda que
inocentes ao final provado. Na Bahia a tortura é coisa comum e corriqueira,
salvo para os torturadores ou encobridores renitentemente a negar a sua existência,
como a querer a tapar o sol com os dedos e ainda sentem seus brios ofendidos,
como se tivessem brios, quando denunciados, mas nunca punidos.
A tortura denominada pau de arara
foi e é prática terrível para descobrir a “verdade” pela dor infligida aos
miseráveis, eis que os colarinhos brancos não são tocados e nem ao menos são
humilhados pelos policiais.
A “Comissão
da Verdade” ao revelar fatos do período da ditadura mais recente, se
esquece de que desde a ditadura de Vargas e Fillinto Müller, seu Chefe de
Polícia, milhares foram mortos nas masmorras do poder para assegurar as
garantias de poder, riqueza e impunidade para os detentores e detratores do
poder constitucional.
22/05/2013
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