Tenho o retrato dele guardado dentro
da minha bíblia e me acompanha há exatos 48 anos de vida. Todos os meus filhos
e amigos já o viram e tiveram de ouvir a minha história, e, sobre quem foi
aquele homem. É muito comum eu sonhar, ainda hoje, com José
de Lima Coutinho.
Este nome contém a minha gratidão que
talvez nem tenha sido dispensada aos meus pais. O nome vive e mora nas minhas entranhas
desde o distante ano de 1967 quando,
fugindo da sanha perseguidora por causa do Evangelho que eu havia abraçado em
1966, tive de empreender várias fugas e escapatórias.
A primeira começou com a perda do meu
primeiro emprego federal, conquistado mediante concurso publico e aprovado em
2º lugar no Estado da Bahia no ano de 1964. Ao aceitar o Evangelho de Jesus meu chefe imediato foi a Salvador exigir, como se dizia, a minha
cabeça. Dizia ele que eu não era mais aquele menino da sua admiração, beberrão, mulherengo e valentão. Em Salvador contou um
emaranhado bem cavernoso a meu respeito. Ironia da vida, muitos anos depois,
teve de recepcioná-lo na cidade aonde vivo hoje, numa passeata política que
atravancava minha passagem de carro, enquanto ele me bajulava e dizia que um
seu filho pertencia a igreja Batista Betânia.
Saindo de Muritiba fui acolhido em um
colégio da denominação dos Batistas, o Taylor-Egídio aonde estudei um ano e
meses quando, tive de ser despedido (expulso), por um diretor xereta e
bajulador de ricos em meu desfavor. Sai pelas estradas da vida, certo de que
Deus jamais abandonou os seus, e, fui parar, depois de ter tentado em Salvador
encontrar um colégio, na cidade de Serrinha.
Em Serrinha fui morar com um tio.
Logo a má-fé, a desconfiança, a perseguição, a incredulidade e as perseguições
do meu tio passaram a exigir a minha saída da sua casa, pelo motivo de eu ter
pregado a Palavra do Senhor a ele e
um rapazinho que vivia na casa, mas que, passavam o dia todo bebendo e
farreando pela cidade. Sua casa era único abrigo em que vivi cerca de três
meses em meio a todo tipo de humilhação. Fui posto para fora da casa que dizia
não aceitar “crente,” nem “protestante”, nem “herege,” nem amaldiçoado
que não praticava a religião do pai e da mãe, e que ia morar na casa de
católico. Era, na verdade, um devasso miserável e infame que rejeitou a Palavra do Senhor, vivendo em pecado e
abominação.
Orei
fervorosamente ao Senhor e, quando estava faltando dois minutos para deixar a
residência do tio,pois o tio marcou dia, e hora de saída compulsória, eis que
um jipe para a porta com um motorista nervoso a gritar pelo meu nome. Seu nome:
Paulo Coutinho, neto de José de Lima Coutinho.
José
Coutinho era um senhor de 82 anos de idade. Disse-me que havia sonhado com
um rapaz sendo perseguido e mandou pedir informações sobre esse rapaz. Nunca me
vira na vida. Não sabia quem era o Max, não conhecia minhas origens, apenas me
acolheu em seu lar, a sua mesa, aonde eu sentava sem limitações e conversávamos
amigavelmente dia e noite, viajamos constantemente para Caldas do Jorro, lá
passávamos dias e dias e visitávamos igrejas.
Fui morar no coração da cidade de
Serrinha. Tinha um jipe na mão, continuei meus estudos no colégio que Deus
abriu as portas para mim, a Escola Normal da Serrinha, morava e partilhava o
lar de um dos homens mais ricos de Serrinha, aposentado coletor estadual,
fazendeiro de milhares de terras e gado abundante e me alimentava sem reservas
e sem limites.
JOSÉ
DE LIMA COUTINHO era um crente no Senhor. Criou seus filhos, a maioria
médicos, no temor do Senhor. Conheci alguns deles. Jamais recebi um olhar de
desconfiança de qualquer deles. Fundador e espalhador de igrejas era, também,
benfeitor de pastores e de todos os que dele necessitasse. A família de José de Lima Coutinho se compunha de
crentes no Senhor Jesus. Paulo Coutinho parece que se viu até
aliviado em entregar-me o jipe, pois, não sendo ele ainda crente, não gostava
de levar o velho avô José de Lima
Coutinho aos templos, ter de esperar e participar. Então passei a ser uma
espécie de motorista a visitar doentes, a levá-lo em igrejas, a pregar aonde
íamos a seu convite e escolha.
José
de Lima Coutinho foi chamado para morar na Mansão Eterna no mesmo ano de 1967. Ajudei a vestir o terno
cadavérico, juntamente com a bondosa e santa “Zifinha”. Familiares estiveram presentes, menos doutor
Antonio que morava no Rio de Janeiro, que se despediu, meses antes do pai, com
a promessa de se encontrarem somente na eternidade. Eu vi. Eu estava presente.
Dizia o Doutor Antonio ser cheio de afazeres, mas não por negligencia ou
desamor, mas na certeza de que os crentes e os servos do Senhor depositam e se
depositam não na terra, mas na eternidade prometida.
Ajudei a depositar JOSÉ DE LIMA COUTINHO na terra do
cemitério de Serrinha. Ato contínuo, retornamos para a residência para velar a
sua amada esposa que tinha sido filha do falecido Egídio, doador do terreno
onde fundaram o Colégio dos Batistas, o Taylor-Egídio,
na cidade de Jaguaquara aonde se formaram várias gerações, no começo da
pregação do Evangelho, naquela localidade e estabelecimento do trabalho Batista
no sudoeste do Estado da Bahia.
Um dia depois de termos depositado o
pó ao pó, de onde veio JOSÉ DE LIMA
COUTINHO, voltamos ao mesmo cemitério para depositar, dessa vez, a sua
amada e velhinha esposa de toda uma vida.
Um mês após fui embora daquela cidade.
No ano de 2005 fui àquela cidade e fiz
questão de parar o carro em visita a casa. Surpreendentemente virou um montão
de entulho. Os herdeiros deixaram que a casa ruísse. Nada foi construído sobre
as antigas ruínas. Parece um monumento. Quedei-me entristecido e agradecido
numa prece aos céus em agradecimento pelas vidas daquelas pessoas que, sendo
desconhecidas acolheram um desconhecido no mais íntimo do seu lar, abriu-se em
amizade franca dando acolhimento em vez de desprezo que muitas vezes o sangue
comete.
Quanto ao meu tio, morreu. Sem glória
e nos seus pecados infames, procurou esconder-se e assim viveu, ao que eu soube
o resto da sua miserável vida, porém, sem Deus, sem Cristo e sem Salvação.
A saga continua. Hoje, qual viajante
já cansado e saudoso, depois de plantar tantas cruzes e levar tantos à morada
aonde permanecem seus corpos inertes a espera da trombeta ecoar e da volta do SENHOR JESUS, constato que tudo valeu a
pena quando a nossa fé não se desviou do Caminho não obstante as quedas e
dúvidas, dos ensinos do Senhor.
No peito, uma certeza que o
envelhecido Max carrega, a de que, um dia, muito próximo, em nome de Jesus,
estarei adentrando os portais da Mansão Eterna, pisarei em ouro fino, pedras e
especiarias aonde abraçarei e serei abraçado não apenas por José de Lima Coutinho, mas, também de
outros muitos afortunados apressados que me precederam na vida. Hei de estar na
alvorada quando soar a minha trombeta. Amém.
JOSÉ
DE LIMA COUTINHO vive. No meu coração ele continuará vivo para sempre.
Por favor repasse essa mensagem.
www.ursosollitario.blogspot.com
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