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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

FOLIA DE REIS EM ITIÚBA

                             
         O tempo, este nosso companheiro implacável, possui a celeridade do átimo existencial. Porém, não se possibilita para enfraquecer as lembranças, sejam elas boas, sejam elas más. Assim e agora, levanto-me do sono, nesse despertar que se parece muito mais uma ressurreição, como muito bem o disse Exupéry, instando-nos a levantarmos com um sorriso com as mais vívidas recordações de um tempo que se esvai na bruma do passado.
          Vêm a mim a mais profunda recordação de uma fase da minha existência em Itiúba, idos da década de “60” em que reis, princesas, mulinhas, lobisomens e outros seres do imaginário pululavam e às vezes alegrava; outras atanazavam as vidas e as existências apegadas ou não ao supersticionalismo.
        Lembro-me de um pequeno grupo misto de pessoas, homens e mulheres; de todos os naipes e de todas as idades tocando pandeiros, violões, violas e reco-recos, a andarilhar pelas ruas mais humildes de Itiúba entoando belos cantares em que os cantantes se revezavam em versos tão bem rimados, mas de uma beleza e sonoridade verdadeiramente palpitante.
          Lembro-me do grupo chegando todos os anos, adredemente avisados meus pais, na alta madrugada à porta da minha casa. Entre cantos de “aviso da chegança” entremeava como parte do ritual, certo tempo que era como se fosse um aviso aos da casa para que se aprontassem e se preparassem para recebê-los.
          Primeiro tinha o ritual depois de um lapso temporal, em que o dono da casa acendia o candeeiro, o fifó, ou a lamparina como aviso de que iria o grupo ser recebido e que as pessoas davam desse modo, as boas vindas aos cantantes da folia de reis.
        Em seguida, a porta era aberta, ocasião em que entre cantos e versos os cantantes da folia pediam permissão ao dono da casa para que a adentrassem. Tinha a hora exata de abrir a porta. Adentrado o grupo às dependências, efetuavam cantorias as mais belas, ecoando nas cercanias e na negridão das noites sem lâmpadas e sem estrelas o planger livre e o tanger de versos doloridos daquela gente saudando o” Menino Jesus”. Seguiam-se, para os que podiam o servir vinhos e cachaças que sorviam com sofreguidão.
       Finalmente a hora da oferenda além das bebidas e que consistia normalmente em pequenas quantias em dinheiro sob a desculpa de ajudar a pagar as roupas e adereços que ainda deviam nas lojas e fornecedores da cidade.

         Por fim, e, como último ato, cantavam despedidas pedindo aos donos da casa, portanto aos recepcionistas, “permissão” para que se retirassem. Normalmente e usualmente usavam introduzindo nos versos, os nomes do dono da casa, algumas vezes, os filhos. Lembro-me de versos que diziam sobre minha mãe: “Sá Maria, Sá Maria, é a flor, é a flor da laranjeira” e assim sucessivamente. Elogiavam o marido também, enfim era uma bela festa que não resistiu ao tempo, pelo menos nos sertões de Itiúba.

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