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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

ADEUS, NÃO; ATÉ LOGO

                                               
       Sim. Adeus. Damos tantos adeuses que mais um será apenas e tão apenas mais um. Estou acometido por enfermidade dolorosa e cruel que não poupa e não tem cura. No dia 1º de abril de 2014 fui internado de emergência no Hospital Português em Salvador. Logo viria o terrível diagnóstico. Não sei explicar essa minha ausência de medo e destemor, nem sei explicar de onde retiro tantas forças para encara e dar até risadas da minha situação de saúde. Sei que muitas pessoas me acham estranha, outras pensam até que sou louco. Outras consideram que meus neurônios desaparecem na voragem da doença e que eu estou apenas divagando. Não. Trata-se de um homem de fé. Sempre fui um radical em matéria de fé. Sempre achei um, desperdício e uma intromissão pedir a Deus que me curasse de enfermidades, embora eu tenha pedido e orado por centenas de pessoas para que fossem libertadas das doenças.
        Não sei e nem tenho lá muitas explicações. Só sei que estou indo pelo caminho de todos os mortais. Não sinto nenhuma angústia, salvo quando estou sozinho. Sinto que minha fé se fortalece cada dia a mais, lembro-me dos dias em que pregava e ensinava os Evangelhos nas praças e nas igrejas. Afastado por discordar da maneira dos nossos irmãos na fé, não consigo ver a igreja paradona e estática, quase afundando com os pecadores, andando lado a lado, incólume e sem perspectivas de salvação para os perdidos.
          Uso o meu “Face” para falar das coisas sagradas, bem ao meu estilo radical e rasgado desagradando as pessoas como se elas fossem e estivessem obrigadas a me perdoarem pelas minhas grosserias e franquezas. Espero todos os dias com certa sofreguidão a minha chamada.
        Incrivelmente e surpreendentemente não sou ou um homem triste. Muitas vezes sinto-me como se estivesse curado, e, francamente, salvo os sintomas que só eu sei e os cancerosos reconhecem, podem dizer e falar. Estou me findando, ou seja, em outras palavras estou deixando o mundo dos vivos para buscar o abrigo da imortalidade, a cura e a glorificação que sei não mais conquistarei neste mundo, mas glória do Senhor, que está o outro lado da existência.
        Meus familiares não gostaram quando anunciei que não desejava mais prolongar o tratamento. Operei do pulmão, retirei um pedaço do mesmo do lado direito, fiz quimioterapia, depois a  radioterapia tudo dentro do figurino, todos os dias, segui as prescrições médicas, fiz e refiz exames os mais dolorosos, retirei do corpo coisas e implantei coisas, violei o sacrário do meu corpo santo e sagrado tudo na busca da cura, embora lá dentro, bem no íntimo, sempre achasse da inutilidade já que as células apenas se  transportam de um lado para o outro sempre levadas pela corrente sanguínea, e se instalando, e se repartindo, e se,multiplicando nesse sangrar da vida, em outras partes do corpo.
        Continuo a pilotar minha moto. Bem verdade muita coisas deixei de fazer, como, por exemplo, fazer viagens longas. Deixei de viajar, hoje apenas saiu na cidade. Mas faço sexo com certa regularidade, às vezes até três por semana,aproveitando que minha esposa já fez 60 anos, mas ainda gosta de sexo, uma das melhores, senão a melhor coisa que Deus fez para o ser humano; sorrio e não procuro demonstrar tristeza, pois tenho a certeza e a maior de todas as esperanças de alcançar  o que Hebreus capítulo onze versículo um, descreve.
      Certeza no que jamais vi, mas sei que existe.
        O câncer está se espalhando. Sinto os sintomas terríveis. Tem dias que as dores são terríveis. Outros dias nem parece que tenho câncer. Vou à cidade com frequência, visito alguns poucos, e  cuido das coisas. Não tenho por incrível que pareça, nenhuma tristeza pelo câncer. E, é exatamente essa coisa que eu não entendo. O sujeito está morrendo numa contagem regressiva, está se findando pelo somatório de sintomas, as dores lancinantes e perversas fustigam o seu peito, tórax e outras partes do corpo, estou minguando, surpreendentemente me alimento como um cavalo depois de uma cruza,e, ainda assim não consigo ter nem sentir revolta.
        Sei que estou partindo. O pior de tudo é que sei de todas as consequências e coisas dolorosas que o câncer causa no corpo humano. Mas é como se eu lançasse um desafio a ele, não sinto nem experimento nenhum medo e, passar para o lado de lá é como, na minha mente estivesse passando o umbral de uma porta para ter acesso a outra parte e do quarto.
       Muitas vezes me sinto imaginando voando pelo espaço sideral. Como sempre estudei os astros, sei que apreciarei o espaço sideral, seu colorido sua infinitude, sabendo que logo, logo deverei estar sendo hospedado em uma das galáxias aonde o Paraíso se situa.
       Já treinei muitas vezes a morte. Não deixo crianças nem órfãos necessitados do meu auxílio. Serei em breve uma bela e saudosa recordação, permanecerei eterno nos corações dos que me amam e dos que eu ajudei a plantar um pouco dessa fé que me enche e me pulsa no meu coração.

     Então não me peçam para prolongar em cessões de quimioterapia a desesperança daqueles que desesperados não aprenderam a crer nem a confiar no SALVADOR.Aos meus filhos e mais próximos peço que respeitem apenas a minha vontade soberana de estar quanto mais rápido na presença do meu Senhor.Por favor não me levem, seja em qualquer estado físico ou mental, a nenhum médico. Quero e desejo partir em paz.

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