Sim. Adeus.
Damos tantos adeuses que mais um será apenas e tão apenas mais um. Estou
acometido por enfermidade dolorosa e cruel que não poupa e não tem cura. No dia
1º de abril de 2014 fui internado de emergência no Hospital Português em
Salvador. Logo viria o terrível diagnóstico. Não sei explicar essa minha
ausência de medo e destemor, nem sei explicar de onde retiro tantas forças para
encara e dar até risadas da minha situação de saúde. Sei que muitas pessoas me
acham estranha, outras pensam até que sou louco. Outras consideram que meus
neurônios desaparecem na voragem da doença e que eu estou apenas divagando. Não.
Trata-se de um homem de fé. Sempre fui um radical em matéria de fé. Sempre
achei um, desperdício e uma intromissão pedir a Deus que me curasse de
enfermidades, embora eu tenha pedido e orado por centenas de pessoas para que
fossem libertadas das doenças.
Não sei e nem
tenho lá muitas explicações. Só sei que estou indo pelo caminho de todos os
mortais. Não sinto nenhuma angústia, salvo quando estou sozinho. Sinto que
minha fé se fortalece cada dia a mais, lembro-me dos dias em que pregava e ensinava
os Evangelhos nas praças e nas igrejas. Afastado por discordar da maneira dos
nossos irmãos na fé, não consigo ver a igreja paradona e estática, quase
afundando com os pecadores, andando lado a lado, incólume e sem perspectivas de
salvação para os perdidos.
Uso o meu “Face” para falar das coisas sagradas, bem ao meu estilo radical e rasgado desagradando as pessoas como se elas fossem e estivessem obrigadas a me perdoarem pelas minhas grosserias e franquezas. Espero todos os dias com certa sofreguidão a minha chamada.
Uso o meu “Face” para falar das coisas sagradas, bem ao meu estilo radical e rasgado desagradando as pessoas como se elas fossem e estivessem obrigadas a me perdoarem pelas minhas grosserias e franquezas. Espero todos os dias com certa sofreguidão a minha chamada.
Incrivelmente e surpreendentemente não sou ou
um homem triste. Muitas vezes sinto-me como se estivesse curado, e,
francamente, salvo os sintomas que só eu sei e os cancerosos reconhecem, podem
dizer e falar. Estou me findando, ou seja, em outras palavras estou deixando o
mundo dos vivos para buscar o abrigo da imortalidade, a cura e a glorificação
que sei não mais conquistarei neste mundo, mas glória do Senhor, que está o
outro lado da existência.
Meus familiares
não gostaram quando anunciei que não desejava mais prolongar o tratamento.
Operei do pulmão, retirei um pedaço do mesmo do lado direito, fiz quimioterapia,
depois a radioterapia tudo dentro do
figurino, todos os dias, segui as prescrições médicas, fiz e refiz exames os
mais dolorosos, retirei do corpo coisas e implantei coisas, violei o sacrário
do meu corpo santo e sagrado tudo na busca da cura, embora lá dentro, bem no
íntimo, sempre achasse da inutilidade já que as células apenas se transportam de um lado para o outro sempre
levadas pela corrente sanguínea, e se instalando, e se repartindo, e se,multiplicando
nesse sangrar da vida, em outras partes do corpo.
Continuo a
pilotar minha moto. Bem verdade muita coisas deixei de fazer, como, por
exemplo, fazer viagens longas. Deixei de viajar, hoje apenas saiu na cidade.
Mas faço sexo com certa regularidade, às vezes até três por semana,aproveitando
que minha esposa já fez 60 anos, mas ainda gosta de sexo, uma das melhores,
senão a melhor coisa que Deus fez para o ser humano; sorrio e não procuro
demonstrar tristeza, pois tenho a certeza e a maior de todas as esperanças de
alcançar o que Hebreus capítulo onze
versículo um, descreve.
Certeza no que
jamais vi, mas sei que existe.
O câncer está
se espalhando. Sinto os sintomas terríveis. Tem dias que as dores são
terríveis. Outros dias nem parece que tenho câncer. Vou à cidade com
frequência, visito alguns poucos, e
cuido das coisas. Não tenho por incrível que pareça, nenhuma tristeza
pelo câncer. E, é exatamente essa coisa que eu não entendo. O sujeito está
morrendo numa contagem regressiva, está se findando pelo somatório de sintomas,
as dores lancinantes e perversas fustigam o seu peito, tórax e outras partes do
corpo, estou minguando, surpreendentemente me alimento como um cavalo depois de
uma cruza,e, ainda assim não consigo ter nem sentir revolta.
Sei que estou
partindo. O pior de tudo é que sei de todas as consequências e coisas dolorosas
que o câncer causa no corpo humano. Mas é como se eu lançasse um desafio a ele,
não sinto nem experimento nenhum medo e, passar para o lado de lá é como, na
minha mente estivesse passando o umbral de uma porta para ter acesso a outra parte
e do quarto.
Muitas vezes me sinto imaginando voando pelo espaço sideral. Como sempre
estudei os astros, sei que apreciarei o espaço sideral, seu colorido sua
infinitude, sabendo que logo, logo deverei estar sendo hospedado em uma das
galáxias aonde o Paraíso se situa.
Já treinei
muitas vezes a morte. Não deixo crianças nem órfãos necessitados do meu auxílio.
Serei em breve uma bela e saudosa recordação, permanecerei eterno nos corações
dos que me amam e dos que eu ajudei a plantar um pouco dessa fé que me enche e
me pulsa no meu coração.
Então não me
peçam para prolongar em cessões de quimioterapia a desesperança daqueles que
desesperados não aprenderam a crer nem a confiar no SALVADOR.Aos meus filhos e
mais próximos peço que respeitem apenas a minha vontade soberana de estar quanto
mais rápido na presença do meu Senhor.Por favor não me levem, seja em qualquer
estado físico ou mental, a nenhum médico. Quero e desejo partir em paz.
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