Atualmente acordo nas madrugadas,
espantado o sono, obrigando-me a pensar e a repensar a existência. Normalmente
quando acontece no meio da madrugada, tenho sentido um fenômeno muito
interessante ao escutar os galos daqui cantando.
Quando eu era um garoto vivendo nos
sertões itiubeiro, costumava, quando despertado nas madrugadas ficar a ouvir os
galos cantando e amiudando. Era um verdadeiro espetáculo que jamais me saiu da
mente e das recordações boas. Bem verdade, tenho de dizer que, naqueles tempos,
em Itiúba, dificilmente as famílias não criavam galinhas e galos de quintal.
Havia uma fartura. Primeiro, os vizinhos não ficavam importunados pelo canto
dos galos dos demais. Afinal de contas, todos criavam e ouviam os cantos
indistintamente. Porém, isto ocorria porque uma verdade tem de ser dita: Ciganos
não armavam acampamentos dentro das cidades, ou seja, dentro dos perímetros
urbanos, de modo que não podiam roubar, muito menos, furtar galos e galinhas,
daí existirem em profusão. Hoje não: ciganos são considerados cidadãos e mandam
e desmandam nas cidades impedindo o livre curso e as relações civilizadas, se
estabelecem com suas vidas degradadas nos bairros e ruas e se misturam ao povo
das cidades como se fossem cidadãos uteis e decentes. Daí não permitir que as
pessoas criem galinhas e outros bichos miúdos.
Mantive o costume campestre de criar
galinhas caipiras no meu amplo quintal, de vez em quando torço o pescoço para
degustação primorosa, já que sou inimigo de hormônios e dos venenos das rações
das galinhas ditas de granja, verdadeiras buchas e bombas a envenenar o
brasileiro desinformado, mas devo dizer que não crio galos, isto é o dito
macho, o dito cujo, deixando minhas pobres penosas numa penúria sexual de
arrasar, só para evitar importunar os vizinhos, uma vez que, hoje os vizinhos
se sentem incomodados com coisas simples e de tudo reclamam, até do cantar dos galos.
As minhas galinhas são criadas com
luxo inaudito, mas não possuem galos que disputarem suas preferencias sexuais,
pelo que sinto dó das bichinhas obrigadas a vidas absolutamente castas e longe
das tentações sexuais dos seus galos em porfias e disputas femalescas. Devem
sentir uma falta desgraçada, porém, ouço, nas madrugadas, vindo de distante,
algum cantar galistíco fazendo-me relembrar a distante cidade e sertão
itiubano.
O cantar dos galos daqui, soa quase um
esganar. Nada parecido com aqueles peitos possantes dos galos sertanejos, nem
aquela melodia que parecia fazer com que os galos oferecessem verdadeiras
sinfonias e pareciam disputar os cantos mais longos e mafiosos. O bater das asas
e o roçar dos esporões completavam o espetáculo dos nossos galos. O cantar dos daqui,
são quase imperceptíveis, esganados, engasgados e curtos, sem maviosidade
qualquer, de sorte que sai aquele canto merencório, quase como se estivessem
sendo estrebuchados com mão misteriosa, movidos e desinteressante, que não nos
consegue relembrar as coisas que aconteciam no amiudar dos galos nas madrugadas
sertânicas.
Por outro lado, não existe aquela
maranha dos sertões, aquela confusão de cantos e bater de asas, como o rufar
dos possantes tambores das guerras, sendo os cantos pausados e distantes, quase
uma eternidade nas madrugadas que os cabelos brancos, as cãs e a neve nas
nossas cabeças, quais renitentes e saudosos nos conduzem às recordações.
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