Quase todos os
homens possuem uma mulher em sua vida. Mas, não é desse tipo de mulher que
quero aqui falar. Falo de outra, com uma disposição para conhecer pessoas,
raramente vista. Ela atende, em primeiro lugar, no grande Hospital Português de Salvado, é médica com especialidade em cirurgias de
alta resolução.
Olhos grandes
emoldurados por grossas sobrancelhas, cabelos negros e escorridos, pequena, franzina,
todas as vezes que eu a abraço faço-o com temor de esmagá-la sob os meus mais de
cem quilos de banha.
Seu nome está
escrito na sua roupa de médica. Drª VANESSA MENEZES. Carismática, chega a
ser simplória em meio a tanta dor e desespero dos que ali chegam e em suas mãos
são confiados. Tive dois casamentos, vivo bem com a minha atual companheira,
mas nenhuma das duas distintas que enfeitaram o meu pedregoso caminhar, jamais
poderão se comparar a essa respeitável Senhora. Chamo-a simplesmente “Doutora Vanessa”. Parece mais uma
menininha dessas que aparentemente ainda brincam de bonecas. Mas, ela é uma das
médicas responsáveis pelo Centro de Oncologia do Hospital Português. Qual a
razão?
Seu ofício é
abrir corpos de doentes desenganados, arrancar o bruto do câncer, ou seja, que bicho for, ajudando o sujeito a tirar os pés da cova.
A franzina
Doutora me conhece como as duas mulheres acima referidas, jamais me conheceram
nem conhecerão. Primeiro aquela pequena-gigante me conhece por
dentro, como resultado de sua perícia e capacidade de cientista, ao abrir-me a
garganta numa primeira intervenção, tendo tamanha perícia em tapar o buraco
para retirada de nódulos, ou seja, o que for, costurando-me com sua maestria.Foi
ela mesma quem, mais tarde me veio com o amargo e doloroso diagnóstico: “Senhor Max seu câncer está no pulmão e
precisamos retirá-lo”.
Da paciência de
Job em explicar-me com aquele palavrório profissional, consegue, com raros
dotes, descer à minha mais miserável e escancarada ignorância sobre os assuntos
de medicina. Passou-me delicadamente a fazer-me concessões, em especial
explicando e reexplicando os procedimentos a esse bugre nas ciências de
Hipócrates. A danada até explicou-me milimetricamente o tamanho do pedaço do
pulmão que iria arrancar do corpo cansado do velho Max.
Finalmente
pela segunda vez lá estava àquela mulher miudinha em tamanho, mas uma gigante
de alma, profissão e conhecimento, a lacerar-me do lado direito, arrancando e
expondo minhas entranhas e, de lá, arrancar um pedaço do pulmão direito aonde
estava alojado o câncer que roia meu interior. Então ela conhece o velho Max
por dentro, visitou meu interior e viu coisas que nem eu nem ninguém jamais
vimos ou veremos.
Tenho uma
gratidão impagável por aquela a quem às vezes descontraidamente chamo alguns
muitos médicos de “Doutores adolescentes”,
já que se trata de uma equipe formada por jovens diante dos meus avançados anos
de ancião e já dobrando a esquina da existência e o cabo da desesperança.
Em artigo que
escrevi para o meu Blog, cheguei para escândalo e licenciosamente ousado que
sou, de chamá-los de “moleques”,
porém, tudo num rasgo de eloquência e licensiodade poética, não como ofensa,
explicação plausível que deixa claro, para que os intérpretes desinformados não
me venham a dar puladas e bordoadas. E tenho motivos de sobra em dedicar aquele
pessoal tanto agradecimento e tamanha afetividade.
Já não sei
quantas vezes eles retiraram meus pés da sepultura. A primeira foi em 2012
quando fui operado de aneurisma da aorta abdominal. O resto é só festa.
Que viva
minha amada médica com as bênçãos do Nosso Deus que manipula e dirige o seu
bisturi manuseado por essa- Pequena-grande
mulher -Doutora Vanessa Menezes- por mais uns duzentos e setenta e quatro
anos, cinco dias, vinte e sete minutos e três segundos.
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