Sempre pensei
em escrever sobre os coveiros, esses maravilhosos e magníficos senhores, hoje,
graças aos avanços sociais, confiado o cargo, também, às mulheres. Pois é,
saibam que já existem muitas senhoras
que se ocupam em plantar defuntos nos cemitérios.
As oradas
outrora recanto masculino, parecia um clube “do Bolinha”, tão restrito aos
homens quanto o “Beco do Quebra-Faca”
afamado reduto boêmio das mariposas noturnas e dos notívagos espertalhões que
saiam nas noites enluaradas ou não, lá dos sertões. Hoje, não; existem mulheres
coveiras que desenvolvem o seu ofício tão ou quanto os homens.
Mas, não quero
aqui falar dos gêneros coveiros e sim, de dois coveiros que passaram por
Itiúba. “O primeiro foi o chamado ‘Velho
Lot” que, com sua força descomunal acumulava com o de carregador ou transportador de bandas de bois
abatidos para o açougue Local. Morreu o Lot
na mais avançada idade sobrevivendo ao seu filho Adelino, muito mais jovem, que sucumbiu muito mais levado pela
diaba da caninha, a famosa “moça filha
de pardo trigueiro”.
Velho Lot como carinhosamente lhes
chamávamos, “plantou” no estreito e
acanhado cemitério de Itiúba muito valente e muita gente boa, ou que se pensava
boa ,com largas pás de areia sobre o caixão nas covas rasas.
O segundo,
que desejo, e espero não seja o último, é o famoso “Pé-de-ouro” apelido que nasceu pelo seu peculiar modo de andar,
com os pés apontados para fora, como se estivesse a sofrer de direcionamento.
Este ,ao que parece, acho que vindo dos lados de um lugarejo outrora chamado de
“Pega-nego” surgiu em Itiúba
misteriosamente. Negro retinto como a noite, cabelos mais para lisos, em vez da
carapinha, depois de muitos anos de serviços prestados, escafedeu-se da cidade,
indo morar, em cidade vizinha, de nome Filadelfia, aonde foi continuar seu
ofício de coveiro atendendo convite dos prefeitos da localidade.
Vi-o no
cemitério, regresso e apossado do cemitério Local de Itiúba quando fui cumprir
o dever de sepultar minha irmã Marlene, onde meus pais estão em “Requienscat in pace”.
Parece que
tenho certa morbidez pelos coveiros. Dificilmente deixo de levar um bom bate
papo com algum deles, pouco importando se os conheço ou não, seja em qualquer
cemitério aonde tenha eu de comparecer.
Lá está “o
parece quase eterno Pé-de-ouro”
impávido a tratar de coisas de sepultamento, a abrir e fechar covas, a
desenterrar ossadas quando cumpre o tempo dos carneiros, tudo naquela
meticulosidade de causar inveja. Sujeito simples e caprichoso, sem pressa,
parece não ter um só fio de cabelos brancos de tão acostumado com a
inexorabilidade dos que partem adiantado, lá permanecendo à espera de nós sobreviventes.
O Pé-de-ouro é sujeito afável,
embora não seja requintado, mas uma boa praça como se dizia antigamente.
Que “viva o Pé-de-ouro” uns cem anos mais para
continuar nesse invejável e misterioso ofício de chamar terra na cara das pessoas,
dos que se despedem entre aís e dores deste mundo.
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