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sexta-feira, 3 de julho de 2015

LONGEVIDADE DOS COVEIROS

                    
          Sempre pensei em escrever sobre os coveiros, esses maravilhosos e magníficos senhores, hoje, graças aos avanços sociais, confiado o cargo, também, às mulheres. Pois é, saibam que  já existem muitas senhoras que se ocupam em plantar defuntos nos cemitérios.
        As oradas outrora recanto masculino, parecia um clube “do Bolinha”, tão restrito aos homens quanto o “Beco do Quebra-Faca” afamado reduto boêmio das mariposas noturnas e dos notívagos espertalhões que saiam nas noites enluaradas ou não, lá dos sertões. Hoje, não; existem mulheres coveiras que desenvolvem o seu ofício tão ou quanto os homens.
       Mas, não quero aqui falar dos gêneros coveiros e sim, de dois coveiros que passaram por Itiúba. “O primeiro foi o chamado ‘Velho Lot” que, com sua força descomunal acumulava com o de  carregador ou transportador de bandas de bois abatidos para o açougue Local. Morreu o Lot na mais avançada idade sobrevivendo ao seu filho Adelino, muito mais jovem, que sucumbiu muito mais levado pela diaba da caninha, a famosa “moça  filha de pardo trigueiro”.
         Velho Lot como carinhosamente lhes chamávamos, “plantou” no  estreito e acanhado cemitério de Itiúba muito valente e muita gente boa, ou que se pensava boa ,com largas pás de areia sobre o caixão nas  covas rasas.
          O segundo, que desejo, e espero não seja o último, é o famoso “Pé-de-ouro” apelido que nasceu pelo seu peculiar modo de andar, com os pés apontados para fora, como se estivesse a sofrer de direcionamento. Este ,ao que parece, acho que vindo dos lados de um lugarejo outrora chamado de “Pega-nego” surgiu em Itiúba misteriosamente. Negro retinto como a noite, cabelos mais para lisos, em vez da carapinha, depois de muitos anos de serviços prestados, escafedeu-se da cidade, indo morar, em cidade vizinha, de nome Filadelfia, aonde foi continuar seu ofício de coveiro atendendo convite dos prefeitos da localidade.
        Vi-o no cemitério, regresso e apossado do cemitério Local de Itiúba quando fui cumprir o dever de sepultar minha irmã Marlene, onde meus pais estão em “Requienscat in pace”.
        Parece que tenho certa morbidez pelos coveiros. Dificilmente deixo de levar um bom bate papo com algum deles, pouco importando se os conheço ou não, seja em qualquer cemitério aonde tenha eu de comparecer.
        Lá está “o parece quase eterno Pé-de-ouro” impávido a tratar de coisas de sepultamento, a abrir e fechar covas, a desenterrar ossadas quando cumpre o tempo dos carneiros, tudo naquela meticulosidade de causar inveja. Sujeito simples e caprichoso, sem pressa, parece não ter um só fio de cabelos brancos de tão acostumado com a inexorabilidade dos que partem adiantado, lá permanecendo à espera de nós sobreviventes. O Pé-de-ouro é sujeito afável, embora não seja requintado, mas uma boa praça como se dizia antigamente.

         Que “viva o Pé-de-ouro” uns cem anos mais para continuar nesse invejável e misterioso ofício de chamar terra na cara das pessoas, dos que se despedem entre aís e dores deste mundo.

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