Dificilmente os padrões atuais poderiam mesmo
numa visão distorcida, aproximar o Brasil e seus costumes, às práticas
medievalistas. O período historicamente apelidado de medievo representa uma
síntese das relações de submissão, ao mesmo tempo em que caracteriza o ápice da
valorização da terra e estabelece as relações com bases em antigos costumes
bárbaros, na fidelidade entre suseranos versus
vassalos, criando, assim, laços de dependência, ultrapassada a fase do “beneficium”.
Atualizado o medievo e ajustado a
pratica nossa de cada dia, não há como estabelecer, mesmo fora dos padrões e
princípios historiográficos, tamanhas diferenças e latitudes quando nos comparamos
e cotejamos nossos costumes, em especial o de amealhar terras e bens em
detrimento de populações inteiras, como, se verifica, no Estado do Maranhão
aonde o clã dos Sarney conseguiu inexplicavelmente amealhar e arrebanhar
contingentes enormes de pessoas apoiadoras e acumular imensas glebas de terras.
Alguém poderia dizer que o chefe do
clã, serviçal incondicional dos militares em certo período da história do
Brasil, referentemente aos golpistas militares
de 1964, e pós, permitiu e abriu mão, não sem contrapartida, para que os Sarney conseguissem, a custo da
miséria das populações daquele Estado e das sangrias de cofres públicos, sem vigilância, mas capaz de comprar
silêncios e conivências, fosse o condutor natural para o enriquecimento do
suserano maior daquele Estado decano vergado pelo tempo que envelhece, também,
os canalhas.
Mostra a história uma espécie de “comitatus” prática oriunda dos
poderosos, permitindo solidificar numa sociedade agrária, sem nunca ter sido
gregária, mas capaz de concretizar um sistema tudo por tudo feudal com a
aquiescência e aprovação da igreja católica, aliás, religião apadrinhadora dos
Sarney, só para nos limitarmos ao Estado infame e triste do Maranhão.
Beneficiaria sempre direta da rapinagem,
da fraude e do roubo a Igreja Católica sangrou nações e mais nações, apoio
diretamente e sem pudores todo tipo de tirano, desde que fosse repartido por
estes escolhidos e “abençoados” os despojos das nações, dos povos e das
populações.
Quando se observa a cerimônia de
transmissão da gleba ou feudo aparatosa e impressionista, a idéia era causar
impacto nas mais circunspectas e impactantes formalistas ações e rituais,
seguindo e obedecendo a parâmetros ditados “à
priori” pelo criminoso conjunto religioso denominado catolicismo apostólico
romano, cujos parâmetros seguem rigorosos e abarrotados de desproporcionar formalismo,
porém capazes, por si, de criar nas mentes do homem medieval a certeza da
aprovação, pelos mais poderosa donos do mundo, no caso, a “Cúria ladra e
criminosa representada por papas e prelados”.
Embora no costume baseado, por isso
chamado consuetudinário, desprezava a lei escrita, aliás, inservível,
desde quando a legislatura era ocupação e vontade do Papa e da Cúria Romana
mentirosa e ladravaz, muito mais na palavra empenhada envolvendo personagens
pertencentes e exclusivas da aristocracia centralizada e representada no
Suserano versus Vassalos, mas tudo sob
as bênçãos aprovadoras e abonadoras, além do testemunho favorável da Igreja
romanista, afiançadora das transações e doação “inter-vivos”, observadora das condições impositivas e obrigacionais
em que as tais relações pessoais se baseava no “juramento” que obriga à nobreza a submissão do suserano.
O feudo assim chancelado pela Igreja Católica
assumia o vassalo miserável e infame peça do tabuleiro dos ainda mais infames usurpadores, ainda que a título
religioso e de salvadores das suas pobres e desinformadas almas, concluindo a
finalidade da terra ou da gleba, também o obrigava a socorrer o suserano quando,
e, se solicitado, tanto em dinheiro quanto mantimentos, em soldados e víveres
segundo as necessidades e apelações nas questões militares.
O processo de ruralização numa Europa
que se fragmentara pelas disputas, necessitava e exigia urgentemente a união de
forças em torno de certas ideologias de dominação para a expansão dos suseranos
e influencia nos negócios de Estado, identificando-se como sendo o mesmo que se
transformaram antigas “vilas” romanas dos tempos de apogeu do Império Romano
após ser vencido, em cidades com o conseqüente desenvolvimento urbano que a
aglomeração paulatina de pessoas, provocaria.
Essa expansão contaria com a
compreensão e visão, ainda que distorcida dos suseranos, ao contrário de um
Maranhão em que não foi cedido um palmo de terras as populações marginalizadas
no que hoje é considerado o maior bolsão de miséria e infames, sucedendo nos
poderes internos e na nação, os seus membros, ainda que na dissolução da ética
e economia de um povo, sem contestação e com a aprovação dos governantes
maiores que a tudo fizeram vistas grossas numa aberração da compreensão do que
seja “valor social da terra e função social”, não permitindo a expansão nem qualquer
disputa entre suseranias e vassalagens, mas explodirão e eclodirão em guerras
de disputas, o que jamais aconteceu no Maranhão com a mão de ferro dos Sarney, com
o jagunço assalariado pelo emprego do criminoso bacamarte, com policiais
corruptos e a seu mando, com os poderes
constituídos, Juízes e Judiciário subalternos e comedores e recebedores das
propinas e migalhas lançadas das mesas dos Sarney em pagamento pelos
acobertamentos cínicos e criminosos.
Não existe até 1988 um só juiz, um só
desembargador, um só alto servidor público do Estado que não tenha beijado as
mãos do Sarney pedindo e implorando suas nomeações.
Não foi um processo que se estabeleceu sem a
aquiescência dos poderes, dos juízes nomeados e indicados, dos desembargadores
silentes e criminosos, omissos e que precisarão de julgamentos da história, não
se verificando, por culpa desses agentes e atores nem invasões nem ocupações
para alargamento e anexações de territórios através dos processos dinâmicos
como o trabalho da terra, posse e ocupação pacíficas, etc., etc.
O vassalo membro da nobreza, em regra,
se obrigava e abrigava-se a socorrer o suserano com todos os seus bens. As
relações feudo-vassalo e as chamadas relações de produção, outro capítulo
especial, obrigavam o dever de fidelidade e reciprocidade, diferente, por
conseguinte, da relação servil que dizia respeito ao senhor da terra e o
trabalhador que tinha como base a desigualdade e a exploração da sua força
trabalho.
Enquanto o vassalo era o nobre que
retirava a sua riqueza do trabalho servil, sua relação com o suserano era
subalterna tanto territorial, quanto militar e religiosa.
(Trabalho
oferecido À PUC-RIO quando aluno daquela Instituição)
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