Nos sertões existe uma planta silvestre chamada de calumbi. Pelo menos duas
espécies, as mais conhecidas, o calumbi branco e o unha-de-gato. É claro que os
botânicos e os cientistas especializados podem até desenvolver e perlustrar muito
mais e melhor, sobre a espécie. Digo-o vexatoriamente com a pressa de quem quer
adentrar ao assunto.
O Calumbi que aqui e agora presto, por desejo, minha homenagem, é uma antiga
rua que existiu formada por miseráveis casebres, pequenos, acanhados, desalinhados,
desprovidos e sem condições mínimas de sobrevivência, ou que, pelo menos existia
nos tempos de frívolo e desocupado adolescente, quando ainda andava vagando e
notivagando, de soslaio, olhando as mulheres da noite, com aquele desejo incontido
de descortinar, e avançar no mundo, e nas coisas chamativas, ou pelo menos as que
dormiam muito mais durante o dia trocando-o pela noite.
Quando retornei para morar, novamente em Itiúba, em 2005, lá estava ele,
impávido e impressionantemente arborizado e com calçamento; com água encanada e
serviço de iluminação; com suas ruas limpas e arejadas, bem verdade; com cara e
remodelação novas.
Ocupado agora por famílias, ele permanece no centro da cidade numa pequena
elevação, espécie de “cidade alta”, totalmente diferente daquele velho e poético,
porém miserável Calumbi dos meus dias de garoto, mal afamado e mau visto, mal
frequentado, mau ouvido, quando perdido entrava, por curiosidade, explorando os
bordéis e lupanares ali existentes, com prostitutas manchadas pela chaga social dos
tabus e dos preconceitos, dos filhos remelentos e barrigudos, infestados de “áscaris
lumbricóides” seminus a andar de dia e de noite pelas ruas sujas e infestadas de cães
famintos disputando um pedaço do que comer.
Ali, viveram elas, as indefectíveis e imortais mulheres das vidas dos adolescentes,
da maioria pelo menos, lembrando as furtivas noites, os botequins miseráveis, os
bêbados comprando fiado e cuspindo nos pés dos balcões pobres e improvisados,
enquanto mulheres, muitas carcomidas pelas doenças, especialmente a sífilis, se
findavam e se desdobravam para arranjar “fregueses” e o pão com que matar a fome.
Como permanecem as lembranças de homens esfaqueados disputando as
mulheres e suas atenções, outros cortados a facão, outros com cabeças rachadas por
poderosas cacetadas, polícia omissa e que quase lá não ia, distanciada dos poderes
públicos naquele território demarcado pela dor e pela aflição, pela ausência, e pela
agrura.
O Calumbi não existe mais. Desapareceu. Pelo menos o do passado!!!
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