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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A RUA DO CALUMBI

 Nos sertões existe uma planta silvestre chamada de calumbi. Pelo menos duas espécies, as mais conhecidas, o calumbi branco e o unha-de-gato. É claro que os botânicos e os cientistas especializados podem até desenvolver e perlustrar muito mais e melhor, sobre a espécie. Digo-o vexatoriamente com a pressa de quem quer adentrar ao assunto. O Calumbi que aqui e agora presto, por desejo, minha homenagem, é uma antiga rua que existiu formada por miseráveis casebres, pequenos, acanhados, desalinhados, desprovidos e sem condições mínimas de sobrevivência, ou que, pelo menos existia nos tempos de frívolo e desocupado adolescente, quando ainda andava vagando e notivagando, de soslaio, olhando as mulheres da noite, com aquele desejo incontido de descortinar, e avançar no mundo, e nas coisas chamativas, ou pelo menos as que dormiam muito mais durante o dia trocando-o pela noite. Quando retornei para morar, novamente em Itiúba, em 2005, lá estava ele, impávido e impressionantemente arborizado e com calçamento; com água encanada e serviço de iluminação; com suas ruas limpas e arejadas, bem verdade; com cara e remodelação novas. Ocupado agora por famílias, ele permanece no centro da cidade numa pequena elevação, espécie de “cidade alta”, totalmente diferente daquele velho e poético, porém miserável Calumbi dos meus dias de garoto, mal afamado e mau visto, mal frequentado, mau ouvido, quando perdido entrava, por curiosidade, explorando os bordéis e lupanares ali existentes, com prostitutas manchadas pela chaga social dos tabus e dos preconceitos, dos filhos remelentos e barrigudos, infestados de “áscaris lumbricóides” seminus a andar de dia e de noite pelas ruas sujas e infestadas de cães famintos disputando um pedaço do que comer. Ali, viveram elas, as indefectíveis e imortais mulheres das vidas dos adolescentes, da maioria pelo menos, lembrando as furtivas noites, os botequins miseráveis, os bêbados comprando fiado e cuspindo nos pés dos balcões pobres e improvisados, enquanto mulheres, muitas carcomidas pelas doenças, especialmente a sífilis, se findavam e se desdobravam para arranjar “fregueses” e o pão com que matar a fome. Como permanecem as lembranças de homens esfaqueados disputando as mulheres e suas atenções, outros cortados a facão, outros com cabeças rachadas por poderosas cacetadas, polícia omissa e que quase lá não ia, distanciada dos poderes públicos naquele território demarcado pela dor e pela aflição, pela ausência, e pela agrura. O Calumbi não existe mais. Desapareceu. Pelo menos o do passado!!!

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