Jamais pensei que não conhecesse o
mundo. Minha velhice esclarecida chegou numa hora em que nos permite a
comunicação, viajar pelo mundo, mergulhar nas almas e conhecer cada vez mais o
recôndito e o mais profundo dos corações humanos.
A humanidade é uma ferida
Uma ferida lacerante, imunda, pútrida e
em fase aguda e adiantada de decomposição. Aqui, fica bem claro, é a
decomposição humana, moral e social.
As pessoas aprenderam a bajular as mais
poderosas numa escala que vai do vendedor de quebra-queixo da esquina ao dono
da mercearia. Se o sujeito vende fiado ao sem dinheiro, ele é um bom homem, boa
pessoa, sujeito que gosta de servir. Se o sujeito é prefeito, pode roubar os
cofres públicos, pode ter até dado sua mulher numa roda de amigos, que ele será
o poderoso e respeitado. Detém o poder.
Se o sujeito acumula, mesmo roubando e
furtando escancaradamente, ele passa a ser conhecido por ser empreendedor.
Todos fazem vistas grossas para aclamá-lo grande vencedor, grande empreendedor,
enquanto os circunstantes não inquirem nem desejam saber como ele adquiriu
tamanha fortuna. Todos se enganam a dizer: foi pelo trabalho, pelo suor do
rosto.
O Brasil se especializou na infâmia, na
degradação, na bajulação. Você conhece algum sujeito, tipo, por exemplo,
ministros que não tenham visitado ou peregrinado por cada gabinete dos
poderosos? O mérito não é visto, e, ninguém jamais conseguirá, unicamente, pelo
mérito, alcançar objetivos sadios, se não der a filha para dormir e se prostituir
com o governador, com o milionário enquanto faz vistas grossas, se ele souber
fazer um pouco mais e ficar de quatro, pode sair garantido governador de algum
estado do Brasil.
Para se tornar ministro não será preciso
deter conhecimentos nem reputação, ilibada, ou moral, basta fazer fila, beijar
as mãos do poderoso e, pronto, vira ministro de qualquer dos podres poderes do
Brasil.
A bajulação virou uma praga, os homens no
Brasil se apequenaram, e, se avantajam diante dos menos afortunados, porquanto
aprendem a infame arte de serem capachos. Desde cedo, sem pudores e sem a
mínima contrição ao credo da decência, banalizando e aceitando em seus corpos a
ausência de pudor e decência.
Basta o sujeito saber esticar a mão na
hora certa, a pessoa certa e o poderoso certo, Dar a filha e virar a cara num
faz de contas que não sabe, nem nunca soube, a filha ou a mulher, vai lá, dorme
com o poderoso e o pai ou o irmão aparecem desembargadores, ou em altos
empregos públicos, ou em altos cargos comissionados. Os empregos aonde os ganhos
são altos, os altos salários e vencimentos, não contemplam concursos nem
vitoriosos, mas aquele que foi indicado, o que tem o pistolão e o que a mamãe
foi se ofertar.
Basta olhar a cara e o porte dos aprovados. No
País, atualmente as mais belas e lindas mulheres valiosíssimos, cuja moeda tem
sido a cama, o sofá, o motel. A modelo, a atriz de novela, a de cinema, se não
fizer o percurso com o diretor ou o produtor, jamais alcançará o estrelato.
O sujeito por mais medíocre, ladrão e
salafrário que seja, quando chega ao poder passa a receber uma carga de
bajulação tão grande que desvanece, recebe elogios e o reconhecimento de que
subiu e galgou a situação puramente pelos seus ricos dotes morais e meios
pessoais morais e decentes.
O aflito e trabalhador independente, o
homem sério e “anti social” nunca é visto, nunca alcança nada de muito valor
porque não soube entregar mulher e filhas em troca de cargos e benesses, nem
soube bajular vagabundos parasitas, descarados e amorais que souberam bajular e
se arrastar como os mais infames dos invertebrados morais.
Você já viu um homem decente ocupar um
rico cargo, desses que pagam a peso de ouro, quando e se não vive metido a
bajular os poderosos?
Cala a boca infame que você aí está, mas ‘ não pelo mérito pessoal, mas porque
você soube se desdobrar na mais infame prostituta moral. Um invertebrado moral.
Se você não aprendeu a bajular, então se
prepare para viver a sua pobre e decente existência com um salário de merreca,
uma pobre aposentadoria.
Mas tem uma recompensa impagável. Você
sempre olhará com a cabeça erguida.
Os capachos e infames, não.
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