Não me recordo exatamente o ano. Acho
que foi lá pelo ano de 1960. Sei que já se esfumou no tempo e no espaço. Era eu
um garoto tomando conta da “venda”,
assim era chamado o armazém de secos e molhados dos meus pais, lá nos sertões
da Bahia, numa cidade chamada Itiúba.
De repente entra no estabelecimento um
homem de meia idade, vestindo uma capa colonial, chape de feltro e botas
caipiras. Aproximou-se e pediu uma jurubeba leão do norte. Servi-o enquanto ele
sorveu-a com sofreguidão e sede. Pagou. Parou e retirou do bolso um charuto e
um instrumento rudimentar acondicionado num pequeno pedaço de chifre de animal.
Lembro-me de que tinha no fundo do
instrumento um algodão amarelo e encardido, chamuscado e bastante usado. Aquele
homem apanhou no mesmo bolso dois pedaços de seixos rolados e começo a bater um
no outro poucas vezes. Tinha ele muita prática, e, assim, de repente, a faísca inflamou
o chumaço pequeno de algodão. Ele soprou rapidamente e fez-se fogo. Acendeu o
charuto. Pagou a bebida, agradeceu-me, despediu-se e desapareceu na bruma do
meu tempo.
Jamais o esqueci. Parecia saído da
idade da pedra lascada. Bizarro, aquele senhor deixou-me a impressão de estar vivendo
dentro de um mundo seu, o qual se apegara e não conseguia emergir. Podia
pedir-me uma caixa de fósforos, acender seu charuto e devolver-me, ou
simplesmente podia comprar uma. Não o fez. O homem da pedra lascada, ou polida,
ou nas trevas do seu tempo particularizado deixou-me uma déia do quanto o homem pode adaptar-se e permanecer
independente da sociedade e do progresso da ciencia.
Nunca mais o vi. Era um forasteiro. Ou
uma mera ficção da vida!!!
Assombração, não foi!
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