Nesta manhã
cinzenta e chuvosa de segunda feira, o peito bate cheio de saudades de uma
infância que cada dia mais se afasta, e, não mais volta. Lembro-me com profunda
tristeza dos meus dias de menino em Itiúba, sertões da Bahia, deixando-me uma
profunda angústia a atravessar a minha alma e a rebrotar os olhos com
indisfarçáveis lágrimas.
Alguém disse
que recordar é viver. Não sei; tenho cá minhas dúvidas e, devo confessar minhas
muitas tristezas também.
Nesta manhã
acordei pensando na Praça Nova de Itiúba.
Lá estavam os Parques como eram
conhecidos, que eram montados no meio da aludida praça cheia de barquinhos,
barracas de tiro ao alvo, de doces e de outras atrações, sendo a mais esperada
a roda gigante imponente a desafiar os curiosos que viam os telhados das casas
em voltas rápidas, dos que podiam pagar, e, dos que se faziam acompanhar das
namoradinhas, aproveitando para roubar tímidos e inocentes beijos, ao som dos
alto falantes com os tangos e fados mais belos que os nossos ouvidos já
escutaram.
Vejo o circo
chegando, o palhaço com suas enormes pernas-de-pau anunciando pelas ruas da
cidade o espetáculo da noite, acompanhado da garotada com cruzes feitas de
carvão e óleo na testa, sem direito a tomar banho, para, logo mais a noite, sem
pagar, ir ver os palhaços desengonçados e as rumbeiras, as indefectíveis
rumbeiras, que enfeitavam os sonhos juvenis e despertavam lascivos e
pecaminosos pensamentos, a cada remexida dos quadris voluptuosos, bem como os
seus indefectíveis dramalhões apresentados sempre em “Três Atos”, ao final do
espetáculo.
Vejo-me
garoto e sem dinheiro, na tentativa de burlar a vigilância dos “mata cachorros”, desesperadamente me
introduzindo por baixo da lona circense, sem pagar a entrada!
Como me faz
recordar meus sertões! Hoje vejo que nós tínhamos teatro com funções todos os
finais de semana; cinemas com filmes fabulosos e brincadeiras que se
contássemos nos chamariam de loucos.
Sobretudo,
vejo-me com lágrimas nos olhos e aquele terrível nó na garganta, sentindo uma
grande opressão no peito, de como estou me distanciando rapidamente da minha
infância que se foi.
Quanto não
daria para retornar uma noite que fosse aqueles tempos...
É minha praia
alva está rapidamente se aproximando...
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