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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O VELHO CASARÃO



        Desde que foi construído tem resistido bravamente e até teimosamente as investidas dos incorporadores, dos construtores e de toda a sorte de especuladores dir-se-ia até que o casarão tem resistido com denodo e invejável resistência para os seus carcomidos alicerces. Poderíamos até dizer que resiste estoicamente, se fosse uma pessoa.
        Sob sua imponente e miraculosa construção, podem ser avistados restos já carcomidos  da marca dos estacionamentos que só o tempo inexorável se encarrega de causar. Os anos testemunham que viveu resistiu aos modismos, mesmo quando  pessoas deixaram de procurar abrigo e acolhimento sob suas telhas  quentes e paredes forjadas sobre as melhores construções do seu tempo. Para suas dependências acorriam pessoas em alegres encontros, amores nasceram, juras e promessas, de modo que suas paredes respiravam e arfavam com as sabedorias e as excelências que por ali discordavam e discorriam, sabedorias e saberes, entre sorvidos prazeres e descontraídos encontros risonhos de um tempo que não volta mais.
        De noite, lá longe, quase na ponta da rua apagada, pode ser divisada a sombra projetada por uma lúgubre e estancada luz mortiça, quase apagada, que lhe restou pelo poder público, enquanto a ruazinha aonde se situa parece esquecida e desleixada pelos poderes competentes. Seu telhado destiorado parece desabar ou pelo menos dá a impressão de querer desabar, as telhas com aquele verde escuro do limo agarrado e desleixadamente agarrado como a indicar o tempo e a ausência de outros cuidados.
         Sabe que incomoda. Fato é que, quando da sua construção, na sua inauguração, para lá acorreu a mais fina flor da sociedade a bisbilhotar, a olhar e a admirar o arrojo das suas construções, as linhas modernas e as concepções belas empregadas, além de extremo bom gosto e funcionalidade que denunciava o seu proprietário.
       Mas o tempo corre. O tempo esse inexorável e invencível elemento o fez desatualizado. Adiante, menos de um quarteirão foi aberta uma nova rua. Prédios modernos e arrojados começaram a surgir em meio a condomínios fechados, cada qual disputando qual a mais bela construção e modernidade. O velho casarão quase que desafiando a lei da gravidade, já tem sido reclamado no departamento municipal pela sua demolição, sob as mais serias desculpas como a de ser e estar desatualizado, estar totalmente obsoleto e perigosamente a desafiar os perigos advindos das chuvas e do tempo, pela incapacidade e os altos custos de uma reforma que jamais o tornará um prédio de novo habitável do ponto de vista do pós modernismo, fora dos padrões e de atualidade, além de oferecer perigo às crianças que brincam nas suas cercanias e até mesmo o perigo que dizem representar para os seus pobres moradores que ainda ousam, por ausência de oportunidades outras, fazer ali morada. O velho prédio já é considerado um indesejável, ele, exatamente ele que um dia entre feéricas luzes e o brilho dos olhares cupidos almejaram se abrigar sob suas paredes e telhados.
        Para sua definitiva tristeza o poder público já decidiu pela sua demolição. O novo engole o velho. E a vida continua.


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