Vejo com os olhos que a terra fria há de comê-los conforme
hiperbolicamente e pleonasticamente a língua me permite, dos sentidos aflorados
nas recordações, a grande lona de circo sendo montada por mãos calejadas e
frontes suadas. A azáfama, o corre corre desesperado para erguer o circo, os
carros coadjuvantes se organizando formando uma barreira ao derredor, e, pouco
a pouco, aquela estrutura se desenhar no mundo
ocupado pelo circo já erguido.
Já de tardinha, vejo o palhaço com
suas enormes pernas-de-pau, cara pintada com seu nariz vermelho- vivo e calças largas
e folgadas num esforço terrível para alcançar as próprias pernas. Vejo meninos
de calças curtas ao redor disputando um lugar para sair atrás do palhaço pela
cidade anunciando e repetindo aquele refrão velho e engraçado que não sai das
mentes dos meninos já adultos. Vejo menino com caras marcadas por cruzes feitas
nas testas de óleo e carvão para que não pudesse ser apagado, o cuidado em não
tomar banho para não lavar a cara, a mãe verberando que “você não precisa disso”,
e vejo meninos enfileirados para reclamar o direito de adentrar ao local, de
risos e felicidade, por terem gritado que o “palhaço era um ladrão de mulher” durante toda uma tarde.
Vejo rumbeiras lindas, sacudindo as
ancas febrilmente dançando mambos ao som de bandas anônimas, pernas e coxas
grossas e voluptuosas, olhares ávidos, homens de todas as idades com aqueles
olhares gananciosos e indisfarçados, quase despudorados, mulheres - esposas
absolutamente com as caras amuadas diante, e, na hora das rumbeiras, sublime instante
para os nossos pensamentos ainda que pueris na ausencia de poder.
Vejo o circo nos seus dramalhões
formidandos, em Três Atos, o riso e a felicidade, a alegria e os assobios
aprovadores. E, finalmente a tristeza de ver a lona ser deitada, transportados
todos os utensílios para os trens. Vejo as rumbeiras e trapezistas não tão
deslumbrantes em roupas comuns, correndo, carregando filhos e tralhas, para não
perderem a hora do embarque rumo a outras praças.
Vejo o quanto morremos neste existir
flegmático, nesse transe de dores, existências vividas e despedidas.
Assim eram os circos em Itiúba na
chegada e na despedida.
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