Escrevo para dizer a vocês que
continuo aqui livre, leve e faceiro. Tive o discernimento de acordar do
pesadelo e recusar o desumano tratamento que vocês dão para as pessoas com
câncer. Em vez de submeter-me cego e doido, acordei e, simplesmente raciocinei:
médicos são seres frios e impessoais movidos por um dinariozinho que ninguém é
de ferro.
Calculei que minha largada do porto,
enfunadas as velas, amarradas as poitas, assestado o cabrestante e ajustada a
bússola na direção norte, deverá ocorrer dentro de uns quinze a vinte a dias, podendo até ultrapassar, que nada é
fatal neste mundo de projeções. Aí sim, deverei iniciar propriamente a
travessia do mar vermelho em direção à praia alva do outro lado, quando aportar
serenamente o meu navio.
Sei que não sentiram muita falta da
minha presença lá nos hospitais. Tampouco a sentirão. Afinal de contas
pacientes são só pacientes a experimentar, como cobaias, drogas sem comprovação
nenhuma cientifica, como meros e expectantes sobreviventes da sorte.
Estou feliz. Rio da minha vida, embora a
doença incomode e cause muito desconforto, pelas dores que são terríveis, não
obstante, o desconforto de um modo geral possa ser suportado.
Não tenho mágoa nem me lastimo de nada.
Muito pelo contrário, agradeço a Deus e sou um privilegiado. Mas tenho um
segredinho para dizer a vocês e não quero que as pessoa saibam, mas, para tal,
preciso falar baixinho aos seu ouvidos;
“Tenho
uma pressa retada de deixar essa vida”. Mantenham segredo.
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