Década dos anos
1980. Fui contratado para liberar um cidadão em Aracaju viajei em carro
particular, com familiares do preso e motorista. Dia seguinte, em lá chegando,
dirigi-me à Superintendência da Polícia de Sergipe. No centro da cidade de
Aracaju, o nosso carro bateu na lanterna de um carro preto chapa oficial 003 do
Governador do Estado, o então João Alves, porém desocupado, provocando uma
pequena mossa de menos de 10 centímetros de tamanho, coisa insignificante.
Eu de terno e
gravata quis descer para acertar as coisas. Não o pude pelo que fui contido
pelo motorista, pedindo-me, logo após, para desembarcar, em rápidas palavras,
confessando-me que não podia ser preso. Fi-lo imediatamente. Pasta à mão, terno
impecável quadriculado, entrei num estabelecimento que me pareceu um bar,
enquanto uma perseguição terrível se desencadeou com lanços absolutamente
cinematográficos, em que carros entravam na mão e contramão, davam cavalos de
pau numa ferocidade, enquanto eu rapidamente me dirigi à superintendência.
Em lá chegando
todos os policiais com os armamentos mais sofisticados como metralhadoras,
fuzis e outros, saiam declarando que o governado tinha sofrido um atentado no
centro da cidade.
Dando risadas
compartilhei para um colega, então professor da universidade de Aracaju, na superintendência
para resolver caso seu, a mentira e o puxa saquismo da humanidade, uma vez que
o governador não estava no carro nem era transportado pelo carro abalroado
inadvertidamente, e, sem intenção, pelo meu motorista.
À tarde tive de
viajar para uma das principais cidades do interior para ver o processo do meu
cliente, e, da janela do ônibus, nas barreiras de policiais que paravam e
revistavam todos os carros, podia sentir a estupidez do modo como fazem na
nossa terra quando o dinheiro é público e gasto por eles, os mandões.
Em algumas barreiras eu acenava para alguns poucos policiais
que eu já os conhecia, enquanto, ficava impressionado com a desfaçatez daquela
gente, gastando horrores por uma pequena e insignificante mossa que podia ser
desamassada em menos de quinze minutos de lanternagem,não obstante aqueles rebotalhos
e capachos serviçais declarassem em alto e bom tom “que o seu governador havia sofrido um atentado”.
A perseguição
demorou o dia todo. Recebemos, lá pela tardinha, um telefonema do nosso
motorista que se escondera numa pequena oficina e consertara o Voyage avariado
na perseguição espetacularmente empreendida na fuga rocambolesca. Saímos da
cidade na madrugada sendo perseguidos por viaturas da Polícia Rodoviária
Federal até as imediações dos limites com a Bahia.
Só aí vim,
saber, que o nosso motorista era um bandido altamente perigoso e procurado na
Bahia e no nordeste, por vários crimes, os mais variados, de sorte que, nas
suas palavras não podia ser pego.
Soube, anos
mais tarde, que o motorista usava nome falso de um policial que ele matara e
assumira sua identidade. Depois, naturalmente, que os familiares me confessarem
que fora assassinado num hotel de beira de estrada, retalhado em pedacinhos e
sepultado em cova rasa, cavada com as mãos, por um dos seus irmãos, também,
facínora, igualmente morto, mais tarde, pela policia de Santo Antonio de Jesus,
a tiros de escopeta.
Os caminhos de
um advogado criminalista, muitas das vezes são confundidos, inadvertidamente e
sem aviso por aproveitadores que se aproveitam de situações. Nunca mais viajei
com o rapaz, pois achei uma falta de consideração não ter sido avisado da “companhia”. Sempre me perguntei: e se a
polícia tivesse parado aquele carro ou balas tivessem nos acertado? Ou ainda,
se eu tivesse sido preso pelos policiais? Decepções e vergonha até explicar as
coisas.
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