Antigamente se dizia assim: Maria Cesar a maior parteira de Itiúba.
Hoje não; jaz no esquecimento, porque as pessoas são esquecidas, assim que
descem à sepultura ou deixam as suas práticas. Nasci no sertão itiubano. Sou,
portanto, itiubano da gema, se você se aborrecer com o adjetivo pátrio,
chame-me de itiubense, pouco importa, e,vim ao mundo pelas mãos de uma outra
grande parteira chamada “Mãe Teodora”.
Pois é, é assim que chamávamos as parteiras que nos “pegavam”. Fui “pegado”
pelas mãos da gloriosa mãe Teodora,
mulher rija, de fala grossa e gutural, dessas escaveiradas, a distribuir “Deus
lhe abençoe” a molecada respeitosa e severa, quando passava apressada,de
andar pelas madrugadas e pelas poeirentas estradas sertânicas a assombrar espectros
e a abrir caminhos para esperar os rebentos com peitos de aço que vinham ao
mundo.
Hoje são esquecidas. Mãe Teodora “pegou” muitos milhares de filhos que
nasceram em Itiúba e cidades circunvizinhas. D. Maria Cesar que na
verdade não era Cesar, mas, Maria Batista Cirne Maria, o que deixavao marido Joaquim Brandão azucrinando e chispando
fulo da vida, era assim conhecida desde a sua mocidade, mulher que fora do seu
marido esposa Manoel Cesar, sujeitinho infame e miserável de uma perversidade e
crueldade dessas de assombrar corações humanos. Viuvou e casou-sed. Maria com
meu pai Joaquim BrandãoCirne que não
perdoava ninguém que chamava sua esposa amada de “Maria Cesar”. Retava-se, atanava-se, consumia-se deixava de atender
as pessoas, mas simplesmente tinha, ou melhor, teve de conviver a vida inteira
com o apelido da sua esposa que fora casada primeiro com outro. Coisas da vida.
Curioso é que Mãe Teodora foi a
parteira que “pegou” D. Maria Cesar. Ironias da vida.
Maria
Cesar – a parteira “pegou” o seu primeiro “filho”, no ano de 1945, de uma
mulher chamada Berosa, prostituta pobre e miserável que estava a parir
abandonada de tudo e de todos, sem nenhum socorro”. Lá se foi D. Maria Cesar e
fez o seu primeiro parto. Depois, se seguiu uma cambulhada, de roldão, a mão
cheia, menino que nunca acabanava de nascer em Itiúba. Inicialmente fazia
partos as escondidas do marido com medo de represálias coisa que nunca passou pela
cabeça do grande e fabuloso Joaquim Brandão.
Maria Cesar afazia até oito partos por dia conforme a safra, pois quem naqueles
tempos se fazia menino a rodo.
Ensinou e orientava os estudantes de
medicina do antigo e findo Projeto Rondon que vinham de São Paulo e do Rio com
catas de recomendação do Ministério da Saúde. Hoje são menosprezadas e chamadas
de “aparadeiras” e outras adjetições infames e humilhantes para lhes retirar os
brios e a boa fama. Sem parteira, especialmente uma de nome Maria Cesar, mais
de 27 crianças não teriam vindo ao mundo na segurança daquelas mãos firmes
que lhes esperava com uma doce saudação. Obrigado D. Maria Cesar.
D. Maria adquiriu certa notoriedade e
começou a vir gente até da Bolívia. Fez uns três partos internacionais. Poisé, a mulher era uma danada mesmo. Sua vida toda
ela “pegou “ mais de vinte e sete mil meninos e meninas. Repito: 27 mil
crianças que ela “pegou” com amor,
carinho e denodo, do lar rico ao mais pobre e miserável ela entrava com honras
levada por aflitos maridos, amasios, safardanas, vagabundos, fazedores de
filhos e raparigueiros. Não tinha essa de condição social. Maria Cesar não lhes
olhava as caras nem queria saber se casados ou não. Não sabemos às vezes em que
as prostitutas foram ajudadas, e, feitos seus partos por D. Maria Cesar. Nada
recebia, salvo alguns trocados quando e se aprouve os maridos mais abonados.
Maria Cesar chorava para fazer
caridade, socorrer as mulheres e proporcionar-lhes alívios e alegria. Mantém
todos os seus partos registrados em livros enormes, cujos registros eram feitos
por seu marido, tornando referencial para registros púbicos civis dos que
nasceram pelas mãos da parteira Maria Cesar.
Quando você falar ou escrever esse
nome, persigne e respeite o nome. Já que respeito e consideração são moedas de
desvalorização junto ao esquecimento.
Pai, lendo seu comentário veio o pensamento de resgate da história das parteiras, em especial da história de Mãe Maria - minha avó. Mulher que fez diferença em todo sertão da Bahia. Linda homenagem. Acho que ao terminar sua travessia do Mar Vermelho o senhor já tem uma nova tarefa exercer com maestria sua profissão de historiador e resgatar do esquecimento e colocar na História as parteiras, figuras tão importantes na história da humanidade. amei o texto. Bjão.
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