Ontem fui a Salvador com a missão de plantar uma cruz. Já plantei muitas nesse desfilar de despedidas e de cadáveres que todos somos levados durante a passagem pela terra. São os que foram lambidos pela morte, essa companheira tão próxima, tão repelida e tão antipatizada por muitos.
Pessoalmente tenha minha visão particular sobre a morte. Julgo-a uma amiga e companheira do dia a dia da existência.
Sofro com os que ficam especialmente pelo fato de que a grande maioria renega-a, como se fosse possível driblá-la como fazem os grandes e pequenos craques nos campos de futebol. Creio que o melhor é fazermos reflexões, nos situarmos no plano das afetividades terrenas, e, sobretudo nos aproximarmos em interrogações sobre o nosso “amanhã”.
Um velório é nada mais nada menos a oportunidade de prestarmos ao morto e aos seus parentes, sentida homenagem. Assim, detesto velórios em meio a sorrisos e piadas debochadas sob qualquer situação.
Reflexão deveria ser a motivação dos que comparecem ao velório.
Ontem se foi Luciano em Salvador. Sua esposa, minha cunhada Luci e seus filhinhos, em meio a tanta dor e lamentações, naquela sensação de desamparo e dor que não passa nunca, não estão ao desamparo. Deus velará por eles e os homens de boa vontade.
A bíblia sagrada diz que o “Chorar vem ao anoitecer, enquanto o sorriso chega pela manhã”. Na manhã gloriosa todos nos encontraremos no Senhor quando a trombeta eterna soar.
Passará a dor. É a lei inexorável da existência. O sorriso retornará aos seus lábios, mesmo porque, as recordações de um pai e marido extremado é que farão a diferença na hora de eternizar a ausência. Os que foram bons e amados em vida permanecem eternos. Não há morte que apague sua recordação, seu carinho, desvelo e proteção.
Ontem, em Salvador, no cemitério Jardim da Saudade, diante de um cortejo silencioso e triste depositamos sob palmos de terra o inerte corpo do extinto Luciano na esperança de que o seu passaporte tenha recebido, em vida, o “visto” de permanência no Reino do Senhor.
Resta apenas o nosso “Requienscat in pace”.
E não custa nada lembrar: Amanhã seremos nós. É só aguardarmos.
Não cessaremos de plantar cruzes enquanto não nos plantarem, sob nossos próprios corpos, as cruzes que pedimos, não sejam esquecidas.
Santo Antonio de Jesus, 27 de março de 2012.
Max Brandão Cirne
Nenhum comentário:
Postar um comentário